ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Maternidade: uma possibilidade para diretoras de fotografia no Brasil? |
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Autor | Marina Cavalcanti Tedesco |
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Resumo Expandido | A maternidade foi objeto, na história da humanidade, de diversas construções sociais, que variaram no tempo e no espaço, e em função de classe, religião, cor, etc. No Brasil e em grande parte do mundo vemos, hoje, uma desestabilização do ideal de maternidade que emergiu nos séculos XVIII e XIX, o qual glorificava o dar à luz e atribuía enormes responsabilidades para as mães (ARIÈS, 1986). Esta retomada de atribuição de responsabilidades, "calcada na idéia antiga de que 'mãe é mãe', de que ela é a pessoa mais adequada para cuidar dos filhos e que, em última análise, identifica maternidade e feminilidade" (ROCHA-COUTINHO, 2005, p.122), tem a ver com a inscrição da maternidade no corpo da mulher (ROCHA-COUTINHO, 2005), mas também com o próprio capitalismo, posto que parte do “preço de mercado da força de trabalho... é constituído pela parte não paga produzida pelo trabalho doméstico não remunerado das mulheres “ (GAMA apud MOREIRA; MOSER, 2017, p.6). No que se refere à desestabilização acima referida, destacamos entre suas causas a militância feminista e o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho. Ambos têm trazido para as mulheres a possibilidade de outras centralidades de vida, como, por exemplo, a realização profissional, em novos processos marcados por tensões subjetivas e objetivas. No que diz respeito às classes médias e altas em nosso País… embora algumas diferenças de gênero persistam... as meninas hoje são educadas... para competir e buscar um crescimento profissional cada vez maior… Ao mesmo tempo, diferentes discursos sociais continuam a reforçar seu papel na família como esposas e, principalmente, como mães… Assim, que, no que diz respeito à mulher contemporânea, uma das questões mais complexas, problemáticas e conflitantes continua a ser a maternidade (ROCHA-COUTINHO, 2005, p.125). Tal diagnóstico é fundamental para se pensar a maternidade entre diretoras de fotografia, questão que emergiu com força nas entrevistas que realizamos com profissionais de diferentes idades e regiões do país entre 2017 e 2019. Os dados produzidos por nós (TEDESCO, 2016) e pela ANCINE (2016) demonstram que as mulheres têm fotografado no último período apenas 8% dos audiovisuais (um percentual baixíssimo e que poucas vezes foi maior), e basta circular pelo meio para perceber que a imensa maioria das poucas que conseguem entrar e se manter em uma profissão ainda tão masculina são brancas, cisgêneras, com alto grau de escolaridade e oriundas das classes média e alta - o que nos remete às afirmações de Rocha-Coutinho. Ademais, tamanha desigualdade de gênero exige uma enorme dedicação das mulheres à profissão. A veterana Heloisa Passos afirma: “São poucas mesmo [as fotógrafas mães]. Os fotógrafos se eu fiz assistência todas são pais, né? Então quando eu digo ‘me distraí’ é quase uma forma irônica de dizer o tanto que eu tive que por de mim nesse lugar que eu decidi conquistar”. As condições de trabalho no set de seis dias por semana e 12 horas por dia também foram apontadas por parte significativa das entrevistadas como impeditivas para conciliar maternidade e carreira. A revisão da literatura sobre o tema feita por Oliveira et al (2011) corrobora a percepção das fotógrafas: “o regime de trabalho em tempo integral tende a dificultar a conciliação da maternidade com a vida profissional, dada a menor flexibilidade no manejo do tempo” (OLIVEIRA et al, 2011, p.275). E “os estudos também verificaram que a presença de benefícios trabalhistas [os quais não fazem parte da vida de freelancer da maioria das profissões de set], em especial da licença-maternidade, estava associada ao maior retorno das mães ao trabalho após o nascimento do filho (OLIVEIRA et al, 2011, p.275). Nesta comunicação, articularemos trechos das entrevistas realizadas com estudos sobre mulheres e mercado de trabalho para refletirmos sobre a maternidade, um aspecto do machismo na direção de fotografia que tem sido pouco estudado e discutido. |
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Bibliografia | ANCINE. Diversidade de gênero e raça nos lançamentos brasileiros de 2016. 2018. Disponível em: https://www.ancine.gov.br/sites/default/files/apresentacoes/Apresentra%C3%A7%C3%A3o%20Diversidade%20FINAL%20EM%2025-01-18%20HOJE.pdf |