ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Câmera e corpo no audiovisual político nos sites de redes sociais |
|
Autor | Adil Giovanni Lepri |
|
Resumo Expandido | Este artigo parte da noção de que o discurso e o fazer político no contexto dos Sites de Redes Sociais (SRS) se colocam em um processo em que excesso, sensacionalismo e o espetáculo do visível são elementos centrais. A partir das reflexões de Gomes (2014), Mondzain (2009), Rancière (2013) e Gaines (1999) pretende-se investigar a manifestação deste fenômeno mais especificamente no audiovisual que circula nestas plataformas. Burgess & Green (2008) dialogam com este pressuposto no que tange os SRS identificando um modo de fazer e falar política que privilegia o visível e o mostrar de maneira central. Nesse sentido, os escritos de Enne (2007) entram no circuito a fim de pensar de que maneira essas formas de mostrar na internet dialogam com as matrizes expressivas ligadas ao excesso, sobretudo o sensacionalismo. Aqui entendo que essa dimensão do excesso se manifesta na própria materialidade fílmica a partir da câmera enquanto dispositivo cinemático, da manipulação desta em conjunto com o corpo de quem filma. A partir das reflexões de Vieira Jr. (2014) e Lima (2017) pretendo elaborar uma proposição conceitual que pensa a noção de “câmera-corpo” para o objeto estudado. Uma câmera que atue de fato como a extensão do corpo de quem filma, se afetando em conjunto com esse corpo. O cine-olho de Vertov (1985) e os conceitos de mimetismo político e pathos do acontecimento em Gaines (1999) são importantes bases para pensar o encaixe dessa “câmera-corpo” como elemento central dos exemplos analisados. Nessa comunicação serão trazidos dois exemplos para análise, um mais identificado com a esquerda e outro com a direita no espectro político. O exemplo à esquerda é retirado da fanpage do Facebook do Mídia NINJA [1] e é uma transmissão ao vivo que retrata uma manifestação pela liberdade do ex-presidente Lula. Os corpos em cena se afetam e a câmera por vezes se afeta junto ao transitar pela pequena multidão, em uma articulação particular da noção de câmera-corpo aqui trabalhada. É como se a sensação contagiasse o dispositivo e este não fosse apenas um objeto técnico alheio. Já o exemplo à direita - retirado do canal “Mamaefalei” ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) - retrata a ida do youtuber Arthur Do Val à uma manifestação pró Lula em Curtitiba [2]. O vídeo parece colocar grande ênfase no dispositivo cinemático no contexto analisado, trazendo a articulação do que se propõe aqui como “câmera-corpo” – nesse caso a câmera atua como uma extensão do corpo de Do Val de fato (sobretudo aquela que ele traz literalmente vestida em seu tórax) – assim fazendo extrapolar o caráter espetacular e sensorial dos momentos de afetação corpórea no interior da manifestação. Em ambos os exemplos a dimensão espetacular, excessiva e sensacional é central, articulando o discurso político de cada movimento sobretudo através do visível e do sensorial e principalmente através da atuação da câmera e do corpo de forma conjunta. [1] Acesso em 15/03/2019. [2] Acesso em 20/03/2019. |
|
Bibliografia | BURGESS, Jean. GREEN, Joshua. Agency and controversy in the YouTube community. In Internet Research 9.0: Rethinking Community, Rethinking Place. Copenhagen, 15-18 October, 2008. |