ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Diálogos estilísticos entre Barry Jenkins e Wong kar-wai |
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Autor | Ludmila Moreira Macedo de Carvalho |
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Resumo Expandido | Desde o lançamento e o reconhecimento internacional de “Moonlight" (2016), segundo longa-metragem da carreira do diretor estadunidense Barry Jenkins, comparações entre seu estilo e o do cineasta de Hong Kong Wong Kar-wai tem emergido na imprensa internacional e nos fóruns de discussão de fãs e apreciadores de cinema. De fato, tal comparação já foi corroborada pelo próprio Jenkins que, em entrevista ao portal da distribuidora Criterion Collection (2016), referiu-se a Wong como uma de suas maiores influências cinematográficas. À luz do lançamento do longa “Se a rua Beale falasse” (2019), o diálogo entre as obras dos dois realizadores torna-se ainda mais evidente. Percebe-se por exemplo que, assim como o diretor de “Amores Expressos” (1994), “Felizes Juntos” (1997), “Amor à flor da pele” (2000) e “2046” (2004), Jenkins possui marcas estilísticas reconhecíveis no modo de encenar e enquadrar seus personagens e cenários; nas movimentações de câmera e nas manipulações temporais através da edição; no uso expressivo das cores e da música, entre outras. A partir destas primeiras constatações, pretende-se apresentar uma análise comparativa dos filmes "Se a rua Beale falasse” (Barry Jenkins, EUA, 2019) e “Amor à flor da pele” (Wong Kar-wai, Hong Kong, 2002), ressaltando justamente as relações entre essas marcas estilísticas. No entanto, mais do que empreender uma discussão a respeito de questões de influência e originalidade, nosso estudo se preocupa mais com a própria ideia de estilo, e de como o estilo apresenta-se como possibilidade metodológica para a análise aprofundada de filmes. Estilo é compreendido, neste contexto, como o modo com que os materiais da linguagem audiovisual - que compreende desde o que se chama de mise-en-scène, ou seja, a organização e disposição dos elementos para a câmera, o cenário, o figurino, a iluminação e o movimento e atuação dos atores, até a montagem e a trilha sonora - são utilizados sistematica e significativamente de modo expressivo pelos criadores da obra para atingir um determinado resultado (BORDWELL, 2013). O historiador da arte Michael Baxandall (1985) aponta que a marca estilística de um artista decorre, em boa medida, das escolhas que faz durante o processo artístico diante de um universo de possibilidades. Isso quer dizer que, ao fazer uma obra, o artista não parte simplesmente do zero, mas tem como ponto de partida uma espécie de inventário de possibilidades cujos limites dependem, certamente, das intenções e da própria habilidade técnica do artista, mas também de outros fatores, tais como o conjunto das práticas e esquemas disponíveis naquele momento histórico e social. Deste modo, indagamo-nos de que modo diretores de origens diferentes, cujos filmes apresentam preocupações temáticas e histórias distintas (a saber, o filme de Jenkins narra o romance entre dois jovens negros no Harlem dos anos 1970; o filme de Wong narra a aproximação entre dois vizinhos casados na Hong Kong dos anos 1960), inseridos em contextos de produção diferentes, tomam decisões estilísticas semelhantes? De que modo os efeitos - estéticos, poéticos, narrativos - decorrentes de tais escolhas estilísticas se aproximam ou se afastam em suas obras? |
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Bibliografia | BAXANDALL, M. Padrões de intenção: a explicação histórica dos quadros. São Paulo: Companhia das Letras, 1985. |