ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Acervos digitais na web e políticas de memória |
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Autor | Douglas Ostruca |
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Resumo Expandido | Entre os debates relacionados à memória e à preservação do audiovisual, Jacques Derrida (2002) levanta algumas questões relacionadas ao acesso dos materiais e às políticas de seleção implicadas na construção dos acervos. Em relação a isso, acredita-se que a digitalização dos acervos audiovisuais e a possiblidade de disponibilizá-los na web, implicam retomar as pontuações do filósofo considerando as especificidades dessas novas experiências. Nesse sentido, Zonda Bez (2016) chama atenção para a iniciativa tomada pela Cinemateca Portuguesa, a qual já disponibiliza alguns de seus arquivos online em parceria com o European Film Gateway. No Brasil, também existem investimentos na digitalização e preservação de materiais via editais públicos (2018), entretanto, parece que ainda não são consideradas as possibilidades de disponibilização na web. Situado em meio ao debate sobre a implementação da lei do depósito legal para filmes e programas televisivos na França, Derrida considera a relevância da preservação de todo esse material e o direto de acesso público a ele. Entretanto, tendo em vista a grande quantidade de audiovisuais produzidos, compreende-se que a preservação de todo o material não é possível, havendo a necessidade de parâmetros de seleção. Com base nisso, entende-se que são as políticas de memória que tornam viáveis as práticas concretas de preservação. Mas, por outro lado, o estabelecimento de determinados critérios de seleção, também significa demarcar aquilo que é irrelevante ou, até mesmo, inconveniente e impróprio, dependendo de onde se olha. Portanto, a partir dessas pontuações, entende-se que essas políticas devem ser aplicadas, mas, ao mesmo tempo, questionadas, abrindo-se um movimento constante de tensionamento e reformulação. De acordo com Bez (2016), a disponibilização dos acervos na web seria um passo no caminho para oferecer um maior acesso a esses materiais, entretanto, nesse caso, os direitos autorais ainda estabelecem um dos principais impeditivos. Além disso, deve-se considerar que a disponibilização do que foi previamente selecionado ainda mantém a centralização das escolhas na constituição dos acervos. Contudo, se o olhar for direcionado para outras práticas como, as novas plataformas de distribuição coletiva via internet (Taturana e Videocamp), nota-se que as dinâmicas de constituição dos acervos são outras. Nesse sentido, vale pontuar a possibilidade de as/os realizadoras/es encaminharem seus filmes deixando-os disponíveis no acervo das plataformas através do cadastro no site. Além disso, o acesso a esses materiais também é aberto ao público via internet, também através do cadastro. Por outro lado, nesses casos, seria necessário investigar se os filmes submetidos passam por alguma seleção. Sendo assim, entende-se que, embora o foco das novas práticas pontuadas no parágrafo anterior não seja precisamente a preservação audiovisual (que implica o envolvimento de técnicos especializados), as dinâmicas específicas de cada uma podem oferecer pistas sobre outros caminhos em relação às políticas de memória do audiovisual, tendo como base a descentralização das escolhas e a garantia de um acesso mais amplo ao material. Todavia, acredita-se que mesmo nessas experiências, a seleção ocorre por outras formas, havendo necessidade, conforme sugere Derrida, de manter a consciência sobre esses processos e buscar explicitar o modo de funcionamento dessas dinâmicas. |
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Bibliografia | BEZ, Z. Direitos autorais são barreira para acervos audiovisuais na web. Cultura digital, 2016. Disponível em: https://bit.ly/2uy0LG7. Último acesso em: 29 mar. 2019. |