ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Amazônia infernal e o horror tipo exportação |
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Autor | Leandro Cesar Caraça |
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Resumo Expandido | Em "Brasil dos gringos" (2000), Tunico Amâncio analisa uma série de filmes estrangeiros cujas tramas estão localizadas no território brasileiro. O autor afirma que o Brasil sempre foi incluído na categoria de lugar "exótico", tanto por seu papel periférico na economia capitalista ocidental quanto por sua extensão geográfica que inclui uma enorme quantidade de virtualidades imaginárias. Amâncio também observa que esses filmes estrangeiros caracterizam o Brasil recorrendo a clichês e estereótipos que estão presentes em diferentes gêneros, quase sempre colocando em destaque uma dicotomia entre o "mundo civilizado" e o "mundo selvagem" (Amâncio 2000: 83). Esse tipo de representação cinematográfica estereotipada de um país localizado fora do eixo Europa-EUA está longe de se limitar ao Brasil. Como Eric Schaefer aponta (1999), o chamado "filme exótico" tem origem nas práticas documentais que tiveram início no cinema mudo, quando relatos de expedições a lugares distantes ganhavam popularidade em todo o mundo. Mais do que um território física e politicamente determinado, a região amazônica pode ser entendida como uma construção imaginária que incorpora significações geradas pela relação entre a história da cultura latino-americana e mundial (Amâncio 2000: 83). Estendendo-se para além das fronteiras do território brasileiro (ocupando partes da Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa), a Amazônia é uma das mais extensas e atraentes regiões 'exóticas' para exploradores e cineastas de todo o planeta, que lá enfrentam tanto as condições climáticas extremas do suposto "inferno verde" quanto o contato com comunidades isoladas de povos nativos. e também de pescadores e fazendeiros. Em busca de explorar esse espaço geográfico e imaginário, produções como "Mundo Estranho" (1950), do alemão Franz Eichhorn, e "Feitiço do Amazonas" (1954), do polonês Zygmunt Sulistrowski, realizadas na Amazônia brasileira nos anos 1950, estão entre primeiros longas-metragens sonoros (em parte) lá realizados, tendo obtido considerável atenção na época. Esses filmes possuem características que confirmam a descrição de Amâncio das recorrentes dicotomias entre o "mundo selvagem" e o "mundo civilizado". Em particular o filme "Feitiço do Amazonas", lançado internacionalmente como "Naked Amazon", é também considerado um dos precursores dos filmes "mondo" (Geltzer 2015: 154). No mesmo período, outros cineastas também procuraram observar a Amazônia como espaço de aventura e espetáculo. Naquela época, a síntese do filme sonoro e colorido com as possibilidades do "exotismo" tropical atraiu o interesse de vários produtores estrangeiros, resultando, por exemplo, em coproduções internacionais de horror e ficção-científica de terceira linha, como "Curuçu, o terror do Amazonas" (1955) e "Escravos do amor das Amazonas (1957), ambos dirigidos por Curt Siodmak com algumas locações na região amazônica, e outras no estado de São Paulo, nos estúdios da Brasil Filmes. Neste trabalho, examinaremos características do imaginário da selva amazônica no cinema estrangeiro feito no Brasil nos anos 1950, relacionado tais características à tradição de filmes de exploração voltados aos temas do horror e da fantasia. |
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Bibliografia | Amâncio, Tunico (2000), O Brasil dos gringos: Imagens de cinema, Niterói: Intertexto. |