ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Padrões de linguagem e identidade no filme Muleque té doido! (2014) |
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Autor | Andréia de Lima Silva |
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Resumo Expandido | A linguagem regional e os traços marcantes da identidade maranhense parecem decisivos para a composição da narrativa do filme Muleque té doido! (2014), longa- metragem de ficção do cineasta Erlanes Duarte, considerado um dos maiores fenômenos do cinema recente do Maranhão. Pesquisas do campo audiovisual têm demonstrado a relevância das produções cinematográficas para a difusão do imaginário e cultura de um povo, bem como das formas de sentir e pensar o mundo. Em filmes de circulação mais restrita a determinadas regiões, as escolhas técnicas e estéticas guardam certa consonância com as referências culturais do seu local de produção, o que, de certa forma, funciona como estratégia para gerar identificação mais direta com o público e assim o cooptar para a história contada na tela. Além desse recurso a padrões linguísticos e identitários regionais, filmes como Muleque té doido! (2014) possivelmente alcançam grande sucesso de público ao também recorrer à linguagem fílmica que remete aos padrões narrativos e estéticos do cinema hollywoodiano. Assim, neste longa, o caráter “regional” maranhense se mesclou ao “universal” hollywoodiano ao inserir elementos do folclore e das lendas locais na película, aproximando a obra do espectador que a recepciona. No filme, a questão da cultura local está presente em diferentes momentos, girando em torno do folclore, aparece, por exemplo, a lenda da serpente, que constitui a principal crença acerca da formação da ilha de São Luís; e o bumba-meu-boi, manifestação da cultura popular maranhense. Já no círculo das lendas urbanas e dos fatos recentes, entram no enredo a Gangue da Bota Preta (grupo perigoso conhecido na década de 1990 por supostamente perseguir estudantes para cortar o bico dos seios delas) e a Loka do Rio Anil (jovem maranhense que virou meme de internet ao aparecer, de forma tresloucada, numa foto que divulgava a inauguração de um grande shopping na cidade). A forma de se comunicar dos personagens e a maneira como São Luís é mostrada no longa-metragem fazem, também, parte da cultura local. O filme explora o vocabulário popular local com expressões e termos utilizados pelo maranhense, como: fulero, qualira, esparroso, mucura, catiroba, ralada, disgranha e tantos outros. O próprio título do filme, Muleque té doido, é uma expressão recorrente no Maranhão. Dessa forma, a peculiaridade linguística do Estado é explorada como estratégia para provocar a empatia do espectador que compartilha daqueles mesmos termos em seu dia-a- dia. Funciona, também, como recurso cômico, na medida em que muitas dessas palavras e expressões são engraçadas e só utilizadas naquele Estado. A trama é permeada de diálogos como estes: “Ai, só tem gente feia aqui (...). Mucura! Catiroba!”, ou mesmo no trecho “(Nikima) – Lá em Salvador a gente chama isso aí é de veado. (Erlanes) – Aqui em São Luís é qualira mesmo. E pense num qualira esparroso!”. O filme foi lançado em 2014 em três cinemas locais e não foi registrado na ANCINE. Ele obteve cerca de 15 mil espectadores e renda de aproximadamente 50 mil reais – dado considerado impressionante para um filme local. Em alguns cinemas, o longa, que estreou em 26 de junho de 2014, estendeu-se até o mês de setembro daquele ano, fato até então inédito para o cinema maranhense. O grande sucesso de bilheteria chegou a gerar um case na rede de cinemas Cine System, já que o filme maranhense superou a bilheteria de blockbusters internacionais que estavam em cartaz na mesma época. O sucesso nos cinemas de São Luís levou rapidamente o primeiro filme de Erlanes Duarte para o mercado da pirataria. O filme também foi disponibilizado na internet, no canal do YouTube, e já teve em torno de 3,5 milhões de visualizações. Tanto sucesso viabilizou a produção de mais dois filmes: Muleque té doido 2 – a lenda de Dom Sebastião (2016) e Muleque té doido 3 – mais doido ainda (2019). Em 2020 o o diretor irá produzir o quarto e último filme da saga. |
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Bibliografia | ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. Recife: FJN. Ed. Massaragana, 1996. |