ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Documentário em primeira pessoa, busca e trânsitos |
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Autor | Laís de Lorenço Teixeira |
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Resumo Expandido | Seguindo na esteira do que Jean-Claude Bernardet (2004) chamou de “documentário de busca”, assim como os documentários em primeira pessoa em que a expressão subjetiva do realizador ou realizadora se coloca como atenção central, nos trabalhos, em que este “eu” transita, se constrói e se relaciona, ganha atenção. Objetivamos pensar como a articulação do espaço se apresenta, a partir de alguns exemplos, no documentário latino-americano contemporâneo, de que modo os espaços, o transito entre eles e a dinâmica de busca empreendidas nestes filmes se organizam. Nos interessa questionar como o espaço se articula com a memória (re)trabalhada no documentário. A dinâmica espacial chama atenção em muitas destas obras, assim como a dualidade privado e público, que implica dos temas e abordagem nos documentários, e assim, tornam essencial tratar o espaço cinematográfico. Estas obras tocam em temáticas públicas e privadas, no processo fílmico, colocando-as para debate, mas inversamente, tendem a ter estes debates em espaços familiares, íntimos, do cotidiano das personagens. Iniciar a reflexão do por que da eleição destes espaços, assim como de que maneira que são apresentados (ou não) e como implicam em uma dinâmica de encontro, nos parece essencial. Pensar o que é público e o que é privado a partir do momento em que se borram estas linhas através da exposição desses “eus”. Como afirma Perrot na Introdução do quarto volume de História da Vida Privada (1990, p.9), uma vez que se escolhe dar atenção ao que acontece no privado, assim “por uma inversão da ordem das coisas, o privado deixasse de ser uma zona maldita, proibida e obscura: o local de nossas delícias e servidões, de nossos conflitos e sonhos; o centro, talvez provisório, de nossa vida, enfim reconhecido, visitado, legitimado”. Pensar em que implica esse privado e porque temas públicos acabam por ser debatidos nesse âmbito. No caminho de contar e construir-se, a memória é elemento central. Essencial pensar como é agenciada de modo a construir uma conjuntura compreensível, que situe as relações da cena, mas não somente, como também apresente o contexto histórico e o espaço em que tal documentário se desenvolve. O processo a partir da construção de uma memória compreensível, no presente da realização documental, implica em uma racionalização do ocorrido, mesclado com o afeto das relações familiares e/ou domésticas. O espaço que serve como palco para construção da memória, do discurso político e pessoal dos encontros, os quais constroem estes filmes, é assim compreendido por nós, não apenas como um espaço físico. Mesmo que importante, nos parece essencial pensar além da materialidade, desse modo, refletir como o espaço também pode ser afetivo e propícia os encontros fílmicos. Estes espaços, de acordo com Velasco (2015, p.8), “se constroem em conjunto com as produções temporais cinematográficas, pois, se existe tempo, existe espaço. São blocos, uma coconstituição, que leva em conta todas as suas dimensões”. Se antes, ainda segundo o autor, o espaço cinematográfico era pensado como algo encerrado e os questionamentos que os cercavam eram referentes ao modo como poderia ser apreendido para a tela de cinema. A partir da compreensão de que "o espaço-tempo é uma coconstituição e que podemos analisar de que forma os espaços vão sendo construídos de modo dinâmico, incessante e sempre em busca de uma eventualidade” (VELASCO, 2015, p.10), o que pretendemos é entender como os espaços se constroem nesse tipo de obra, em que o processo de busca pela memória esta aliado a um trânsito por espaços específicos, com a tendência a serem mediados pelas constantes conversas em ambientes domésticos. |
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Bibliografia | ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea. Tradução de Paloma Vidal. Rio de Janeiro, RJ: Editora da UERJ, 2010. |