ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Intermedialidade, performance e afeto em Tinta Bruta |
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Autor | Thalita Cruz Bastos |
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Resumo Expandido | A produção audiovisual contemporânea tem buscado formas diferentes de tratar do visível e do enunciável, mudando as relações com o representável e consequentemente suas formas de percepção. Nesse contexto a intermedialidade se configura como um conceito importante para elucidar as relações existentes entre produção de afeto e narrativa fílmica. A produção brasileira contemporânea apresenta obras que combinam elementos da intermedialidade, performance e afeto a fim de tratar de questões sócio-culturais de forma diferenciada, construindo o cinema como um lugar de encontros entre intensidades advindas de origens diferentes. O filme “Tinta Bruta” (2018), de Márcio Reolon e Felipe Matzembacher foi o grande ganhador do Festival do Rio de 2018, levando os prêmios de melhor filme, roteiro, ator e ator coadjuvante. No Festival de Berlim 2018 levou o Prêmio Teddy, dedicado a produções com a temática LGBT. O filme agencia elementos pertencentes à estéticas recorrentes no Cinema Queer, mas sua potencialidade de afetação é ampliada pelo uso da dança, das mídias digitais e a relação entre esses elementos através da performance dos corpos. As performances musicais distribuídas ao longo do filme produzem, em um só movimento, um processo de síntese e ressignificação das tensões narrativa. A relação de proximidade e diferença entre essas performances, seja no quarto para a webcam, ou na aula de dança contemporânea, expressa as intensidades que atuam nesses corpos que se contraem e se expandem na frente da câmera. O percurso proposto por esse texto parte das reflexões sobre “políticas da impureza” desenvolvidas por Lúcia Nagib, atravessando o conceito de dissenso apresentado por Jacques Rancière, e as problematizações realizadas por Ágnes Pethö sobre intermedialidade nos auxiliam na conexão entre intermedialidade, performance e afeto. Nosso objetivo através da análise do filme é compreender a relação existente entre intermedialidade, afeto e performance, e como a mesma pode ser desencadeada a partir da produção de dissenso na obra de arte. Tal arranjo de potências demanda um posicionamento ativo do espectador, ou conforme Rancière, um “espectador emancipado”, isto é, um espectador que não está limitado às suas funções sociais e nível de instrução formal para estar sensível às mais diversas manifestações artísticas. O dissenso desencadearia outras formas de sentir, de perceber muitas vezes o irrepresentável, ou o pouco representado, ver o que não é visto, sentir o que não faz parte da nossa realidade cotidiana. O estranhamento, o conflito e o afeto. Além disso, o papel da dança ao longo do filme como aquilo que sintetiza e desencadeia eventos, ressignificando a experiência narrativa, a percepção dos corpos em cena e a circulação das intensidades. Nesse contexto, a performance dos corpos, seja em frente à câmera cinematográfica ou à webcam e mesmo aos olhos dos personagens, instaura eventos afetivos expressivos a partir do encontro entre dança e audiovisual. |
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Bibliografia | BADIOU, Alain. The ethics of truth. In: BADIOU, Alain. Ethics: An essay on the understanding of evil. London and New York: Verso, 2012. p. 40-57. |