ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | As potencialidades dos paratextos para a Teoria dos Cineastas |
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Autor | Patricia de Oliveira Iuva |
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Resumo Expandido | As transformações na esfera da produção e da recepção de imagens se evidenciam na realização cinematográfica (e audiovisual) de modo cada vez mais recorrente, pois os avanços científicos e tecnológicos de aparelhos e modos de produção se colocam de forma incisiva enquanto referências ou critérios de manifestações e criações artísticas. O que se percebe, hoje, é que a mediação técnica se faz presente em todas as etapas, alterando, assim, concepções estéticas, tomadas de posição, conceitos estratégicos de criação, promoção e de distribuição cinematográficas. Trata-se de uma estrutura complexa que articula a tecnologia com produções sociais, econômicas e culturais de sentidos que se disseminam no campo das artes, das ciências e suas instituições. Na esteira desse contexto e das propostas acerca da Teoria dos Cineastas (nas 3 edições de ebooks já publicadas), as quais, de acordo com Tito Cardoso e Cunha (2017, p.22) se interrogam “sobre o ser do ente cinematográfico, isto é, procura responder à clássica interrogação ontológica, quid est? O que é (o cinema)?”, trago a proposta de refletir sobre a potencialidade dos paratextos e a natureza dos questionamentos que os mesmos possibilitam no âmbito da teoria dos cineastas. Na acepção de Gennete, os paratextos são os “textos que nos preparam para outros textos” (GENNETE, 2009, p.17). Ou seja, produções extrafílmicas que circundam a obra audiovisual (seja ela um filme, uma série de televisão, etc) e orientam uma dada leitura do mesmo. No conjunto desses paratextos (trailers, créditos de abertura, entrevistas, críticas, etc) os making of documentaries (MDoc) despontam aqui como objeto teórico e empírico para problematizar questões que considero pertinentes para a Teoria dos Cineastas, uma vez que através dele é possível (re)pensar as transformações da experiência de realização e criação cinematográficas. Na perspectiva deste trabalho, o que fornece ao making of documentário uma relevância para a Teoria dos Cineastas é a de que ele opera no sentido de mostrar uma “dada condição audiovisual, de uma técnica marcada pela tecnologia, seja nas câmeras, nos microfones, nos computadores ou nos efeitos visuais; ao mesmo tempo, deixa claro o quão artesanal é a propensão da atividade” (IUVA; ROSSINI, 2018, p.106.), pois trata-se, antes de tudo, de um fazer artístico. No entanto, há que se ressaltar que meu olhar sobre os MDocs identifica uma série de regularidades discursivas (investigadas em pesquisa prévia), as quais apontam para enunciados que reverenciam a figura do autor como gênio criador. Ou seja, o espaço do campo artístico criativo (do artista), instaura a instância da direção como o lugar da criação. Diante disso, me parece inevitável não problematizar a autoria e o modo como a mesma se constitui no fazer cinematográfico a partir dos MDoc; não para confirmar o que já está postulado de associar autor(a) ao diretor(a), mas com intuito de (re)pensar noções de autoria, tanto no nível da criação dos próprios paratextos, mas também no nível do texto ao qual se referem. Quero sugerir uma abordagem para a leitura da autoria nos MDoc a partir da conjugação (1) do pensamento do gênio do sistema de Bazin, (2) com o tensionamento da originalidade na criação artística de Bakhtin e (3) a função-autor proposta por Foucault, com intuito de demonstrar que o jogo dessa articulação evidencia a potencialidade dos making ofs documentários, enquanto objetos teórico-metodológicos, para desdobramentos da Teoria dos Cineastas, principalmente no que diz respeito à natureza do fazer cinematográfico e da autoria enquanto discursividade que reflete condições específicas de seu tempo. O corpus de análise é constituído por fragmentos de diferentes Mdoc, a fim de sistematizar as recorrências dos desdobramentos que proponho desvelar. |
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Bibliografia | BAKHTIN, Mikhail. Os generos do discurso. Sao Paulo: Editora 34, 2016. |