ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O céu e a areia de Copacabacana: onde residem a luz e a escuridão |
|
Autor | Leonardo Guimarães Rabelo do Amaral |
|
Resumo Expandido | Uma das indagações posta ao poeta contemporâneo é a de que ele deve manter fixo o olhar no seu tempo? O questionamento faz transcorrer em seu cerne uma nova pergunta: o que é contemporâneo? Giorgio Agamben (2009: 62-63) ensaia uma resposta sobre a contemporaneidade ao fazer a seguinte reflexão: “contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro. (...) Contemporâneo é (...) aquele capaz de escrever mergulhando a pena nas trevas do presente.” Na visada de Agamben, o tempo histórico não é percebido como homogêneo. Há, portanto, um anacronismo do tempo histórico que pode ser percebido por uma dobra no presente. Mergulhar nas trevas do agora a fim de se compreender algo de outro momento. A história, vista em sua forma linear, empreende uma batalha contra o anacronismo, que, por sua vez, lança os sujeitos no desafio de não crerem na crença de seu próprio tempo. De acordo com Jacques Rancière (2001), a história possui uma pretensão de ser consensual e não é. É possível mostrar outras temporalidades dentro de um mesmo tempo. É preciso romper com essa ideia teleológica da história, fraturar com a noção de tempo homogêneo. Nesse sentido, o anacronismo seria um modo de se cortar relação com esse tipo de posicionamento do historiador. Ainda que crítico em relação a um certo determinismo técnico na construção do pensamento de Walter Benjamin em relação ao conceito de história, Rancière alcança uma proximidade na crítica a essa história linear e homogênea. Desta maneira, se aproxima também das concepções lançadas por Agamben, ainda que as orientações e encaminhamentos se difiram substancialmente. Se a ideia de anacronismo produz revezes temporais e, segundo a concepção de Rancière, as reivindicações da linearidade do tempo são reivindicações do saber e do poder, logo, esse mesmo anacronismo se apresentaria como um gesto político em relação à imagem contemporânea. O que resiste, então, dessa imagem contemporânea? Para Georges Didi-Huberman (2015: 16): Diante de uma imagem, enfim, temos que reconhecer humildemente isso: que ela provavelmente nos sobreviverá, somos diante dela o elemento de passagem, e ela é, diante de nós, elemento de futuro, o elemento da duração (durée). A imagem tem frequentemente mais memória e mais futuro que o ser (étant) que a olha. Segundo este pensamento, o anacronismo seria necessário e fecundo diante de um passado que se revela insuficiente e que se mostre um obstáculo a sua própria compreensão. Diante da imagem pretérita, existe uma tendência a interpretações guiadas por categorias e ferramentas do passado. Este seria o ideal do historiador que compreende a história em sua linearidade, em sua homogeneidade. Diante da imagem, um caleidoscópio de tempos. O ferramental possível para a análise de um filme como Fábula ou Meu lar é Copacabana (1965), realizado pelo cineasta sueco que criou raízes no Brasil, Arne Sucksdorff, encontra ressonâncias nas teorias trazidas à baila anteriormente. No longa-metragem, quatro crianças que moram no morro da Providência no Rio de Janeiro têm suas vidas atravessadas pela ausência de um lar e transitam sempre entre o morro e a praia. Paulinho é engraxate, Rico e Jorginho aplicam pequenos golpes no comércio de pipas nas areias de Copacabana, enquanto Lice é uma jovem lavadeira de roupas. Com referências fortes de realismo e uma dose de poesia, o filme é um apanhado entre as peripécias e sonhos desses quatro personagens.No corpo a corpo com o longa-metragem, buscaremos resgatar os conceitos e noções juntamente com categorias de análise como, por exemplo, mise-en-scène e montagem. |
|
Bibliografia | AGAMBEN, Giorgio. O que é contemporâneo? e outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. |