ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Mãos à obra: o trabalhador mexicano nos EUA em dois filmes |
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Autor | Maurício de Bragança |
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Resumo Expandido | O uso da mão de obra dos mexicanos sempre foi um dos alicerces da economia estadunidense, tendo sido responsável por grande parte do crescimento do país em vários setores. Segundo dados divulgados em 2017 pela BBVA Bancomer, maior instituição financeira mexicana, publicados pelo Jornal Nexo, “a produção da economia americana que corresponde ao trabalho de mexicanos de primeira, segunda ou terceira geração equivale a um valor superior ao próprio PIB do México (104%, mais precisamente)”. A mesma pesquisa mostra ainda que 8% do PIB geral americano é gerado pela comunidade mexicana, sendo que em estados onde a concentração de mexicanos é maior, como a California, esse índice chega a 12%. Isso mostra a enorme importância da presença de mexicanos para garantir o desenvolvimento da economia estadunidense. Em função disso, vários foram os programas estabelecidos entre Estados Unidos e México que regularam a presença dos mexicanos no mercado de trabalho dos Estados Unidos, sempre de peso muito desigual entre as duas economias, como o Programa Braceros (1942 – 1964), por exemplo. É sabido que a presença da mão de obra mexicana nos Estados Unidos também alimenta de forma decisiva o gigantesco lucro das instituições financeiras através das enormes remessas de capital dos trabalhadores mexicanos em solo estadunidense a seus familiares no México. Essa realidade não passou ao largo das histórias contadas pelo cinema ao longo de várias décadas, traduzindo enfoques e representações distintas de tais experiências. Tanto o cinema mexicano quanto o cinema estadunidense produziram um enorme número de películas que retrataram estas condições de trabalho e a forma como os mexicanos se organizaram nessas condições. Esta comunicação pretende apresentar dois destes filmes. Espaldas mojadas é um filme mexicano, dirigido por Alejandro Galindo, em 1955, e apresenta a história de Rafael Améndola Campuzano (David Silva) que, ao cruzar ilegalmente a fronteira, tenta conseguir trabalho do outro lado. Em meio a tantas humilhações e infortúnios, Rafael decide regressar ao México, tendo aprendido a lição que a cartela inicial do filme apresenta: “Advertência importante: os personagens desta narrativa não são reais, mas representantes simbólicos da situação que pode ser criada quando alguém se coloca à margem da lei, e a narrativa em si não consigna fatos veridicamente históricos. O autor combinou fatos ocorridos nas fronteiras dos distintos países para formar um todo de interesse dramático. Nosso propósito é advertir aos nossos conterrâneos da inconveniência de tratar de abandonar o país de maneira ilegal, com o risco de sofrer situações molestas e dolorosas que poderiam até criar dificuldades nas boas relações que venturosamente existem entre ambos os povos”. O tom de alerta, bastante conservador, já prenuncia a moral que o filme pretende advogar. O segundo filme é uma produção estadunidense de 1954, Salt of the Earth (O sal da Terra), dirigida por Herbert J. Biberman, patrocionada pela Internation Union of Mine, Mill and Smelter Workers, instituição criada em 1916 para a defesa e proteção dos trabalhadores de minas nos Estados Unidos, que contava com um grande número de comunistas dentre os seus quadros. O filme narra a história de uma greve de mineiros de origem mexicana no estado do Novo México. Através de Ramón (Juan Chacón) e Esperanza Quintero (Rosaura Revueltas), acompanhamos a liderança das mulheres quando um mandado de segurança contra os grevistas faz com que elas assumam o comando das atividades grevistas. Inspirado na greve dos trabalhadores da Mina Empire Zinc em 1951, contou com a participação de vários atores não profissionais. O filme denuncia as péssimas condições de trabalho nas minas e aposta na organização sindical dos trabalhadores e trabalhadoras como uma forma de resistir à violência imposta pela condição do capital. Incluído na lista negra do Macarthismo, o filme foi amplamente perseguido ainda durante sua realização. |
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Bibliografia | HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Apicuri, 2016. |