ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Polarização e performance política no interior do Pernambuco. |
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Autor | Mariana Lucas |
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Resumo Expandido | O documentário Camocim de Quentin Delaroche, o acompanha os 45 dias que antecedem as eleições do município pernambucano de Camocim. Durante este período, a polarização entre os eleitores vermelhos e azuis fica ainda mais acirrada e violenta, de maneira, que, os conflitos daquela pequena cidade configuram-se enquanto síntese de questões referentes ao cenário político nacional contemporâneo. Assim, “Camocim parece estar simultaneamente no meio do nada e no centro de tudo” (PINTO, 2018). Dessa forma Delaroche é capaz de tecer uma análise política, aparentemente local, que, através de um conjunto de opções formais, é capaz de atualizar a condição de leitura sobre as eleições de 2018, sobretudo, naquilo que refere-se a dimensão da performance na política. O filme aproxima-se de uma certa tradição documental que almeja acompanhar momentos cruciais que antecedem pleitos presidenciais, a título de exemplo esta o clássico Primary (Robert Drew, 1960), The war Room (Chris Hagedus e D.A. Pennerbaker), Entreatos (João Moreira Salles, 2004). Porém, Camocim distancia-se dos filmes citados ao optar em debruçar-se na campanha do candidato a vereador, César Lucena. Outro diferencial de Camocim em relação a esta tradição documental, esta na escolha pela cabo eleitoral Mayra em conduzir a narrativa, diferente dos outros filmes em que é o próprio político quem conduz o documentário. Será por meio do olhar de Mayra que o filme se estrutura enquanto crítica a antiga politicagem. Mulher, negra, periférica, lésbica e politizada, Mayara emerge enquanto única personagem capaz de romper com a degradante práxis política de Camocim. São nas ruas estreitas da cidade que o circo político é montado, em clima de festa as vias são ocupadas por eleitores entusiasmados, trios-elétricos e políticos discursando, criam, a mise-en-scène necessária para construção do jogo de cena político. Através de seu registro documental Delaroche nos apresentada a experiência política da periferia do capitalismo como a mais espetacular das mercadorias e o eleitorado, enquanto subproduto deste espetáculo. Orientados através de imagens toscas e cores marcantes, para demarcação de seu posicionamento político, os eleitores, assim, compõe com o cínico espetáculo da campanha eleitoral, através de uma precária estetização da política. É em meio a performática disputa eleitoral, que a presença de Mayara marca, não apenas, o abismo da polarização de vermelhos e azuis, mas, sobretudo, uma distância incomensurável entre democracia representativa, os moldes em que ela se fundamenta, e a possibilidade de reação dentro do sistema que a criou. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica In Obras escolhidas: Mágica e técnica, arte política. São Paulo, editora brasiliense 2008. |