ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Cantares de Lucrecia: o design musical da trilogia de Salta |
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Autor | Guilherme Maia de Jesus |
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Coautor | Diego Martin Haase |
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Resumo Expandido | Em entrevista concedida a David Oubinã (2007, p.71) Lucrecia Martel faz declarações a respeito do que pensa sobre o uso de música nos seus filmes. “Colocar música em um filme, primeiro eu deveria saber de música.” Martel diz que a música é algo complexo que a deixa perdida e que só se sente confortável usando-a como um “barulho confuso que aparece em uma festa ou no rádio”. A diretora diz, ainda, que não lhe ocorre nenhuma ideia sobre como fazer com que a música aporte alguma coisa à narração. “Não porque ache que está errado”, diz Martel, “mas porque não sei usar esse recurso de fato”. Em diálogo com o que diz Martel, e com o modo como a poética musical da diretora é percebida pelo pensamento teórico-crítico de pesquisadores como Natalia Cristofoletti Barrenha (2011), Wolfgang Bongers (2011), Eleanora Rapan e Gustavo Costantini (2016) nossa comunicação é o relato de um processo de análise que parte de um spotting dos momentos em que a música intervém na banda sonora dos filmes La ciénaga (2001), La niña santa (2004) e La mujer sin cabeza (2008), a famosa trilogia salteña, tendo como eixos de observação e de interpretação: a) a relação das canções com a fábula e com a narrativa; b) as escolhas da diretora no eixo dos gêneros musicais; c) o lugar ocupado pelas canções em relação à diegese; d) o capital cultural e simbólico da canção e dos intérpretes no campo (Bourdieu); e) uma exegese do modo como a canção afeta o filme (e vice-versa). O caminho analítico até agora percorrido nos autoriza a defender de que o projeto musical de Lucrecia Martel, muito mais do que um “barulho confuso que aparece em uma festa ou no rádio”; muito além de estratégias articuladas por alguém que afirma não saber utilizar a música em seus filmes, se revela um sistema de coerências (Ricoeur, 1997) sofisticado, construído por meio de escolhas que contribuem para a essência (neo?)realista das obras, aderem expressivamente à fábula e à narrativa audiovisual, mobiliza memórias e afetos. Como tentaremos demonstrar, por meio de uma estratégia fundamentada em canções majoritariamente extraídas do folclore argentino e da tradição da cumbia, a banda sonora da troligia salteña contém marcadores que nos revelam um modo singular de fazer, um design musical coerente e raro, um estilo, enfim. |
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Bibliografia | BARRENHA, Natalia Christofoletti. A experiência do cinema de Lucrecia Martel: Resíduos do tempo e sons à beira da piscina. Campinas, SP, 2011. |