ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A casa claustrofóbica de Chantal Akerman: Estilo e feminismo |
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Autor | Natália Marchiori da Silva |
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Resumo Expandido | A partir de Saute ma Ville (1968), primeiro curta-metragem da cineasta Chantal Akerman, é possível identificar elementos estilísticos e narrativos que serão retomados às vezes até de forma obsessiva em toda a produção da cineasta, como o tema da vida doméstica, as sensações claustrofóbicas vinculadas à rotina da casa, o uso da câmera fixa, do plano sequência, o som em disjunção com a imagem, entre outros. Essas características, que podem ser rastreadas ao longo dos mais de 40 filmes realizados pela diretora, ficam mais evidentes, principalmente pela discussão sobre domesticidade e sexualidade feminina, nos filmes realizados na década de setenta. Tais assuntos são vinculados às demandas das mulheres que, na década de setenta, desenvolvem teorias que impactam as discussões sociais e culturais, principalmente, nos campos da filosofia, das artes visuais e do cinema. A teoria feminista do cinema que ganha força a partir da década de setenta, com autoras expressivas como Laura Mulvey (1983), Mary Ann Doane (1981), Teresa de Lauretis (1984), entre outras, aponta impasses na forma como o cinema clássico narrativo construía as representações das mulheres, não só pelo enredo do filme, mas também pela forma como esses filmes são produzidos. Textos escritos quase em tom de manifesto anunciavam, e por que não, formulavam, um fazer fílmico por diretoras que rompiam com modelos vigentes, sem transformar as personagens femininas em objetos de desejos e prazer visual, como apontado por Mulvey em seu importante texto, Prazer Visual e Cinema Narrativo. Doane (1981) em Woman's Stake: Filming the Female Body se detém nesses problemas colocados para a prática de produzir filmes, uma vez que o dispositivo em 1970 já não é visto como neutro, mas como ideológico, produzindo um discurso, uma sintaxe através da forma como o corpo das mulheres vai ser enquadrado e representado. Doane aponta Jeanne Dielman 23, Quai du Commerce, 1080, Bruxelles (1975), filme de Akerman, como um dos filmes que consegue construir uma nova sintaxe, assim, possibilitando o colapso da ordem corrente e uma nova vida para a personagem no filme. Centrado na análise de Jeanne Dielman, os comentários de Doane (1981) são frutíferos para retomar o primeiro filme da diretora, pois como dito acima, ele já apresentava características que se repetirão nos filmes produzidos nos anos seguintes, colocando a vida doméstica e a casa como centro e palco para a construção dessa nova sintaxe. Os dois filmes, Saute ma Ville e Jeanne Dielman, se aproximam e se distanciam em diversos elementos internos, e embora a narrativa construída seja semelhante, compondo uma forte sensação claustrofóbica vinculada a esse espaço, a comunicação realiza uma análise comparativa a fim de aprofundar aquilo que se repete, como marca autoral da cineasta, como um estilo. David Bordwell (2008), teórico de referência para a análise, parte das funções expressivas, simbólicas e decorativas do estilo como meio de explicar as causas e consequências históricas da tendência estilística. Segundo o autor, para “explicar mudança e continuidade dentro do estilo de filme, temos de examinar as circunstâncias que influenciam mais diretamente a execução do filme – o modo de produção, a tecnologia empregada, as tradições e o cotidiano” (BORDWELL, 2008, p. 69). Bordwell afirma que fatores culturais ou demandas políticas tornam-se presentes na estrutura da obra, na atividade daqueles que criam filmes. Portanto, a análise dos filmes parte da busca por mapear o estilo de Akerman relacionando-o com as demandas feministas, que propõem novas formas de realização fílmica, e com os diálogos com as tradições do cinema, como as vanguardas, que será discutida pelos cineastas do chamado Cinema Moderno. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz: a encenação no cinema. Campinas: Papirus, 2008. |