ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O registro e a invenção em A festa e os cães e Monstro |
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Autor | Annádia Leite Brito |
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Resumo Expandido | Em seguimento à comunicação do ano anterior, na qual foi analisada a obra Flash Happy Society (2009), de Guto Parente, passa-se ao caso de mais dois trabalhos cearenses que se situam entre as imagens fixas e em movimento, no espectro do conceito de fotográfico em Bellour (2008): A festa e os cães, de Leonardo Mouramateus (2015), e Monstro (2015), de Breno Baptista. Ambos os trabalhos datam do mesmo ano, foram feitos por jovens realizadores recém formados na graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará e mesclam imagens de arquivo em fotografia impressa com o registro em vídeo. Ademais, as duas obras versam de maneiras diferentes sobre questões da memória, da invenção, do afeto e dos trânsitos. A festa e os cães é um documentário realizado pouco tempo antes de Mouramateus se mudar de Fortaleza para Lisboa. Em planos estáticos, o realizador fala em voz off sobre a procedência das fotografias que começam a ser mostradas e empilhadas – a câmera analógica comprada e utilizada até quebrar e seu período de uso entre dezembro de 2013, durante a realização de um curta, e abril de 2014. O artista narra suas experiências quando da captura das fotografias, fala sobre a iminência de ir embora e conversa com outros três amigos, que aparecem nas imagens e também refletem sobre suas trajetórias de vida, incluindo partidas e chegadas, e projetando futuros possíveis e não realizados. Monstro reúne fotografias analógicas digitalizadas por scanner e algumas imagens em vídeo de momentos de extrema intimidade entre o realizador e Gabriel Rett, seu ex-namorado. A fisicalidade dos corpos mostrados ganha maior dimensão ao ser somada à materialidade pressuposta por essas fotos analógicas em seu dispositivo inicial e aos resíduos de poeira ou pêlos sobrepostos à camada imagética durante a digitalização. A presença de Baptista é constante na voz off e como operador de câmera – aquela para o qual Rett olha, sorri e se masturba. Seu fluxo enunciativo permanece sempre sob a mesma entonação enquanto narra fatos, sonhos, sentimentos e delírios, estabelecendo sobre as imagens tomadas durante o relacionamento uma camada ficcionalizante. A festa e os cães e Monstro se localizam a partir do momento da tomada fotográfica e fixação das imagens até suas diferentes formas de visualização. Aproximam-se de (nostalgia) (1971), de Hollis Frampton, de A balada da dependência sexual (1980-1986), de Nan Goldin, e de seu episódio da série Contatos (2000) não só por suas maneiras de mostragem, mas por se posicionarem entre o registro e a invenção, o que se diz e o que se vê, e entre a proximidade dos afetos e o descolamento das ironias. São formas de falar sobre si de maneira obliqua (MOURÃO, 2015), compondo também a imagem de uma geração através do embaralhamento de temporalidades propiciado pela imbricação entre o estático e o móvel. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. Concerning “the photographic”. In: BECKMAN, Karen; MA, Jean (Orgs.). Still moving: between cinema and photography. Durham, NC: Duke University Press, 2008. |