ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O amargo obituário do cinema pernambucano |
|
Autor | Rodrigo Almeida Ferreira |
|
Resumo Expandido | Parece que carregamos conosco um problema individual e coletivo de memória. Não nascemos sabendo do que aconteceu antes de chegarmos por aqui, não conhecemos automaticamente ou milagrosamente as histórias e as imagens que nos precederam. Se não corremos atrás, podemos, inclusive, passar a vida inteira sem saber nada sobre suas existências. Às vezes, não há condições materiais de conhecê-las, foram queimadas, foram esquecidas, foram silenciadas, tornaram-se por mil e um motivos inacessíveis. Às vezes, não há curiosidade, não há o afã de um(a) caçador(a) de conhecimento. De quando em vez, também falta imaginação. Não há dúvida que a imagem ultrapassa nossa capacidade de recordação: ela registra momentos de nossa tenra infância que não conseguimos acessar; ativa situações que não exatamente esquecemos, mas que tampouco voltaríamos a lembrar, enchendo-as novamente de vida em nossa cabeça. Para além do nosso corpo, a memória de tudo que nos precede reside nos artefatos, nos repertórios, nos arquivos primários ou mediados, no que sobrevive e atravessa o tempo, implicando em consequentes referências estéticas que os deslocam, agindo sobre nossos corpos como ‘próteses de memória’, ferramentas extra-corpóreas, cujo o acúmulo em nossa mente ao longo dos anos amplia e afia nosso olhar sobre o que passou. O caso é que o passado só existe enquanto lembrado e no processo de lembrança é como se todos nós sofrêssemos um pouco de paramnésia, desse distúrbio que altera com narrativas ficcionais nossa capacidade mnemônica factual. O imaginário estético está pouco a pouco suplantando o imaginário histórico. Em muitos casos, a ausência de lembrança insurge em consequência da ausência de artefatos que nos façam lembrar. A história do cinema, a história da preservação do cinema, confunde-se com a história da precariedade, da falta de política pública; a história de perdas, de incêndios; uma história da desaparição. Diante de uma sociedade que vive a ilusão de ser bem informada num contexto de disseminação massiva da desinformação, que pouco mergulha efetivamente em seu passado registrado, no que sobrou do passado registrado, que celebra a opressão e aponta o dedo para as vítimas, entendemos que o "esquecimento" apresenta-se como uma dimensão histórica de quem somos. Afinal, segundo Paul Ricoeur, "o esquecimento tem igualmente um polo ativo ligado ao processo de rememoração, essa busca para reencontrar as memórias perdidas, que, embora tornadas indisponíveis, não estão realmente desaparecidas" (p. 66, 2008). Realizada inteiramente a partir de pesquisas em jornais na Hemeroteca da Biblioteca Nacional, essa investigação histórica, de ordem menos teórica e mais pragmática, resgata seis acontecimentos esquecidos, descartados, desconhecidos da história do cinema pernambucano, desde o final do século XIX até a metade do século XX. A proposta, portanto, revela-se como forma de refletir sobre a situação da preservação da memória audiovisual local a partir do "esquecimento enquanto condição histórica". Partimos das primeiras exibições do cinematógrafo na região, passando pelas primeiras produções realizadas por imigrantes italianos no Recife, a relação desses italianos com o fascismo, a dificuldade de separar os filmes que nunca foram feitos dos que podem ser considerados desaparecidos até chegar no desaparecimento de "O Coelho Sai" (1942), de Newton Paiva e Firmo Neto, o primeiro longa-metragem sonoro nordestino. |
|
Bibliografia | BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. |