ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Articulações cinematográficas da imagem de Rodney King |
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Autor | Pedro de Alencar Sant'Ana do Nascimento |
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Resumo Expandido | A apresentação tem como proposta uma reflexão acerca das articulações cinematográficas da imagem do espancamento de Rodney King, em 1991. Partindo da hipótese amplamente aceita de que a filmagem e veiculação do acontecimento teve repercussões tanto na mídia hegemônica quanto em práticas audiovisuais de resistência antirracista dentro (e fora) das comunidades negras norte-americanas, lançaremos um olhar sobre os legados dessas imagens e discussões na produção cinematográfica em dois momentos históricos (início da década de 1990 e segunda metade da década de 2010). Para tal, discutiremos algumas obras e práticas. A primeira obra abordada será "Birth Of A Nation 4*29*1992", de 1993, documentário experimental de baixo orçamento que tem como foco os LA riots, como ficou conhecida a revolta racial ocorrida na cidade de Los Angeles a partir da absolvição dos policiais que cerca de um ano antes haviam sido filmados espancando Rodney King. O diretor Matthew McDaniel insere a imagem em questão em um contexto impossível de ser ignorado: a cultura hip hop, que na década de 90 seguia seu caminho rumo ao mainstream da indústria musical norte-americana, produzindo opiniões e músicas que refletiam e discutiam amplamente a problemática da relação entre estado e população negra. Através do filme, buscamos ver não só o legado da imagem de King nesse contexto cultural efervescente, mas também as formas através das quais se deu essa articulação por McDaniel. A segunda obra trazida nessa proposta de apresentação é "LA 92", de T.J. Martin e Daniel Lindsay. Enquanto os outro documentário era de 1993, "LA 92" é de 2017, portanto 25 anos após os LA riots. A retomada da imagem de Rodney King se aproxima da associação feita por Spike Lee no início de "Malcolm X", em 1992, mas, ao invés de atualizar discursos, LA 92 atualiza a imagem para um contexto de novas discussões a respeito da violência policial. Esse novo contexto, do qual o movimento #BlackLivesMatter teve e tem um papel fundamental, desencadeou um amplo conjunto de produções audiovisuais, de forma alguma restritas ao cinema. A prática do copwatch, por exemplo, embora surgida há mais de 20 anos, se espalha como uma nova práxis dentro das comunidades negras norte-americanas no pós-2013 (BOCK, 2016). Portanto, a proposta na qual a apresentação está inserida, embora tenha a produção cinematográfica como foco principal, a entende como parte de uma matriz social, na qual também estão outras práticas discursivas (o hip hop, os movimentos antirracistas, o black twitter, o copwatch etc.) com as quais os filmes buscam dialogar. Nesse sentido, alguns autores surgem como fundamentais para o tipo de análise a ser feita, como Stuart Hall e Paul Gilroy. Apontamos também o trabalho historiográfico de Phyllis R. Klotman e Janet K. Cutler como importante para a inserção das obras num contexto mais amplo. Por fim, retomando Paul Gilroy, pretendemos brevemente sugerir o entendimento dessa pesquisa e dos temas abordados em uma perspectiva diaspórica, lembrando que essa produção audiovisual antirracista trazida não se restringe aos Estados Unidos em muitas de suas características. Deixaremos como sugestão reflexões a respeito de tais práticas em um contexto do Atlântico negro, a fim de possibilitar olhares diaspóricos sobre as realidades americana e brasileira. |
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Bibliografia | BOCK, Mary Angela. Film the Police! Cop-Watching and its Embodied Narratives. Journal of Communication 66, p.13-34, 2016. |