ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Fernando Belens: A memória que entra pelos olhos |
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Autor | Marise Berta de Souza |
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Resumo Expandido | Em 2010 apresentei nesta SOCINE comunicação que tratava do método e do processo criativo dos filmes Em me lembro (2005), de Edgard Navarro e Pau Brasil (2009), de Fernando Belens, em que analisei aspectos desses filmes em diálogo travado com os cineastas para compreender as poéticas e os seus “métodos” de construção fílmica. No ano seguinte, 2011, a comunicação que expus tratou da filmografia de Fernando Belens a partir de recorrências e inter-relações fincadas em torno de duas questões identificadas como centrais na sua obra: o corpo e a política. Nesta edição, volto a me debruçar sobre a obra de Fernando Belens. Essa proposta contém a abordagem de seus filmes em outra chave de leitura: “a memória que entra pelos olhos”, e consiste na análise de um conjunto de curtas – Oropa, Luanda, Bahia, Fibra e A mãe - plasmados no ambiente sociocultural da realidade vivenciada pelo diretor em que lembrar e reviver fatos remetem a um movimento de reconstrução e de releituras de experiências vividas que se projetam em direção ao futuro para produzir sentidos. Em Oropa. Luanda, Bahia, a sublevação dos revoltosos Malês, escravos de origem islâmica, ocorrida na noite de 24 para 25 de janeiro de 1835 em Salvador é o acontecimento enfocado que fará a mediação entre memória e história, na perspectiva de descomprimir a memória abafada pela percepção histórica. Em Fibra, a polifonia das vozes dos agricultores mutilados pela máquina de desfibrar sisal se reporta a lugares da memória que abriga nosso passado patriarcal para atualizá-lo na reivindicação e garantia dos direitos atingidos. A Mãe, exulta a figura da mãe coragem do cinema brasileiro, Lúcia Rocha, e a sua obstinada luta pela preservação da obra do filho. Filmes feitos a partir da malha social e política em que o cineasta está inserido, frutos da necessidade absoluta do não esquecimento e do compromisso incondicional perante a sua própria existência. Nesses filmes a memória individual de Fernando Belens associa-se às práticas sociais dos grupos enfocados, e, portanto, são entendidos como filmes de um cinema que contempla a memória coletiva, inseridos na memória social, que dimensionam a essencialidade de suas temática e estética. Os filmes selecionados para análise foram realizados nas bitolas de 16 mm e 35mm, são posteriores ao seu intenso exercício superoitista, do qual trazem algumas marcas incorporadas pelo cineasta: a disciplina no uso dos recursos e a potência criativa. Assim, essa proposta segue as pistas da visão de cinema e de mundo que conformam a busca estética e o ato poético de Fernando Belens, tornando possível evidenciar princípios que identificam uma marca pessoal na sua expressividade através de um elemento comum: a memória revisitada com invenção. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2004. |