ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Cinemas pós-coloniais e decoloniais em contextos de crise |
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Autor | Michelle Cunha Sales |
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Coautor | Catarina Andrade |
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Resumo Expandido | Nos últimos anos, temos assistido um novo estágio cultural no Brasil: um período crítico aguçado pelas transformações do campo cultural brasileiro, fortemente marcado pela disputa à inclusão cultural e simbólica do povo negro ou afro-brasileiro, além do protagonismo dos estudos marcados pelo feminismo interseccional e negro, assim como a disputa pela produção narrativa de grupos políticos minoritários. Esse "novo estágio" acompanha as recentes mudanças políticas que culminaram não apenas no Golpe de 2016, como na eleição e vitória de um candidato de extrema-direita no Brasil. Não é demais referir que a cultura tem sido um espaço privilegiado de desmonte e de embate entre os "antigos" produtores culturais e as novas políticas neo-liberais em voga. Queremos ressaltar nesta comunicação que o cinema contemporâneo brasileiro tem aprofundado outras linhas de força, ampliando o debate acerca de novos engajamentos com a imagem e novos modos de relação, percepção e produção de cinema. Ressalto, a partir da segunda década dos anos 2000, um novo estágio das dinâmicas do pensamento e de uma produção cultural decolonial (Maldonado-Torres,2013) que aprofunda (não apenas no Brasil) tensões acerca da memória e do passado colonial e seus desdobramentos socio-culturais e estéticos. É nesse contexto que surge o Janela Internacional de Cinema do Recife, um festival que já conta com onze edições e que tem em suas sessões, painéis, como: o Janela Crítica e o Brasil distópico, sessões que têm vindo a contemplar novas vozes e que têm exibido filmes que propõem aprofundar a reflexão sobre a situação política brasileira atual e sua relação com a cultura, além de questões identitárias capazes de envolver temas como raça e gênero. Essa produção decolonial recente relaciona-se com a vasta tradição latino-americana que remonta ao cinema produzido nos anos sessenta, sobretudo aquele pensado a partir de manifestos como Toward a Third Cinema (1969), embora atualiza em termos de forma e conteúdo novos engajamentos com a imagem que a forma do filme-ensaio sintetiza como modo de produção e percepção de mundo que muitos realizadores brasileiros têm vindo a adotar. Em Portugal passa a circular a partir dos anos 2000 o cinema africano, que até então só era exibido regularmente na França, na Alemanha e no Reino Unido. A relação com o negro, com a representação do negro, e com o próprio passado colonialista passa a ser alterado a partir daí. Entretanto, também é na virada para a segunda década dos anos 2000 em Portugal que surge uma produção de filmes realizada por diretores afrodescendentes que impõem novas agendas no que diz respeito à identidade nacional, raça, gênero e sexualidade. Assim como no Brasil, em Portugal surgem novos espaços de exibição e circulação de imagens, como o Afro Tela (Lisboa), espaço de exibição para o cinema africano contemporâneo, dinamizado pelo ator e realizador guineense Welket Bungué. Assim como o Festival de Cinema do Recife, o Afrotela tem sido não apenas janela para o cinema negro português (Sales, 2019) como local de formação de novas redes de trabalho e de produção artística voltada para portugueses afrodescendentes. De que forma é possível pensar essas aproximações entre o cinema decolonial que está sendo produzido e exibido no Brasil em espaços como o Janela Internacional de Cinema do Recife e o cinema pós-colonial dos realizadores portugueses afrodescendentes? De que forma ao discutir um imaginário que passa por trânsitos culturais em comum, como a memória colonial, o trauma da escravidão e questões de raça e gênero, os filmes produzidos a partir dessas novas dinâmicas podem tocar-se? De que forma dialogam? E que tipo de pontos de contato podem ter em comum? Para tal digressão e análise, esta comunicação irá recair sobre a curadoria e a programação do Janela Internacional de Cinema de Recife de 2018 e a programação do Afro Tela de Lisboa, do mesmo ano. |
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Bibliografia | BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial, In Revista Brasileira de Ciência Política, nº11. Brasília, maio-agosto de 201 |