ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Montagens em soft narrativas: o Eu sou Amazônia, do Google Earth |
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Autor | Madylene Costa Barata |
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Coautor | Gustavo Daudt Fischer |
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Resumo Expandido | O presente trabalho busca discutir como conceitos acerca das montagens audiovisuais podem contribuir para problematizar as narrativas ambientadas em software. Para isso, trazemos o webdocumentário Eu sou Amazônia (https://bit.ly/2Zib4MH), acessível através do Google Earth (GE). A proposta tem como pressuposto, inserir a problemática dentro de uma sociedade mediada pelo software (Manovich, 2014) e em um contexto de tecnocultura audiovisual (Fischer, 2013). O GE é um produto (software) da empresa estadunidense Google, criado para acessar o globo terrestre e mapas online em modelo tridimensional. O webdocumentário “Eu sou Amazônia” foi inserido como produto do software em 2017 (se encontra na ferramenta “Viajante”) e é constituído por onze histórias classificadas como interativas. Os títulos de cada história são: Eu sou mudança; Eu sou água; Eu sou raiz; Eu sou Alimento; Eu sou Inovação; Eu sou Liberdade; Eu sou Resistência; Eu sou Resiliência; Eu sou Aventura; Eu sou Conhecimento e Terras Indígenas. Partindo deste objeto empírico, propomos autenticar nele uma narrativa “softwarizada”, entendendo-a, portanto, como atravessada por uma sociedade mediada pelos chamados programas de computador, processo que leva ao surgimento de inúmeras atualizações audiovisuais em diferentes suportes e formatos. No caso do Eu Sou Amazônia, mais do que oferecer acesso ao globo terrestre pelo GE, o software participa de uma outra forma de produzir sentido para o usuário através do audiovisual inscrito em ambientes online, uma consequência ligada ao contexto tecnocultural, que faz com que o sujeito jogue com o aparelho (FLUSSER, 2013) no universo técnico da nossa cultura. É neste jogo que emerge a montagem, com sua força teórica, como conceito operativo deste trabalho. Para Eiseinstein (2002, p.27) com a experiência da montagem cinematográfica “o conteúdo de cada quadro das cenas independentes é reforçado pela crescente intensidade da ação”. Especulamos que, embora cada uma das onze “histórias” que compõem o webdocumentário, carrega em si o devir da montagem habitualmente praticada no audiovisual em que as imagens e aspectos sonoros estão dispostos no espaço-tempo do filme, a narrativa “softwarizada” potencializa um estímulo para uma ação do usuário em explorar diferentes possibilidades de sentido e de acesso a arquivos e banco de dados não dispostos na tela. Para discutir essa potência, avançamos para considerar como esses ambientes convocam a noção de montagem espacial proposta por Manovich (2001), ao referir-se aos planos múltiplos que se apresentam simultaneamente em uma tela. Para o autor, enquanto a montagem temporal corresponde ao modo sequencial, a montagem espacial pode mostrar várias montagens, de tamanhos e proporções distintos, em uma mesma tela, simultaneamente, na qual “a lógica da substituição, característica do cinema, dá lugar para a lógica da adição e da coexistência, o tempo torna-se especializado, distribuído pela superfície da tela” (MANOVICH, 2001, p. 325, tradução nossa). Ao acessarmos o Eu sou Amazônia, por exemplo, ao mesmo tempo em que assistimos um vídeo disposto em um dos cantos da tela é possível explorar no mapa online a qual território o conteúdo do vídeo pertence. Tendo a discussão de dois tipos de montagens em suas particularidades, agregamos a noção de montagem temporal/espacial, que tem o potencial de atualização nas plataformas de compartilhamento de vídeo (MONTAÑO, 2015) e que se reproduz de forma evidente no Eu sou Amazônia ao expandir seus conteúdos audiovisuais para os canais do youtube ou na operação dos cliques do usuário em links diversos presentes no ambiente do GE. Trata-se, assim, de reconhecer, na medida em que se ingressa cada vez mais nas interfaces de Eu Sou Amazônia, a coexistência de camadas de “montagem” (temporal, espacial, espaço-temporal) como característica pronunciada de narrativas softwarizadas. |
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Bibliografia | BERGSON, Henri. A evolução criadora. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (p. 295-333) |