ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Subterrâneos do horror e experiência em Amizade Desfeita 2 – Dark Web |
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Autor | Ana Maria Acker |
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Coautor | Juliana Monteiro |
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Resumo Expandido | A partir da observação da câmera subjetiva diegética, o aparelho sem olho humano e a imagem técnica como constituidora de ambiências no horror found footage (ACKER, 2017), a proposta investiga transformações de estilo, peculiaridades narrativas e de experiência com o desconhecido (THACKER, 2011 e 2015) no subgênero desktop horror ou screenlife/social media horror (LARSEN, 2019). Esses filmes se apresentam por interface de computador ou múltiplas telas e demandam uma atenção particular aos planos e respectivos limites (LARSEN, 2019), uma vez que vários quadros narrativos se abrem em uma situação familiar à experimentada pelos espectadores em artefatos de uso cotidiano. Tais realizações podem ser categorizadas, ainda, como falsos found footage de horror. Amizade Desfeita 2 – Dark Web (2018), de Stephen Susco, é a produção para a análise da fruição estética e seus desdobramentos tecnológicos. Destacando-se pela relação performática entre os personagens, o longa-metragem distingue-se pela simulação do espaço hipermediado da web. Fotos e pastas na área de trabalho, o movimento do cursor do mouse, a múltipla utilização de redes sociais, sites desconhecidos, vídeos misteriosos, aplicativo de música e conversas via videoconferência, estão acumulados na tela como camadas de ação que, em determinados momentos, são convocados para o primeiro plano do quadro pelo personagem principal. Essa visualidade leva a um achatamento da imagem e se descola da tradição da perspectiva ou câmera subjetiva diegética, algo comum nos filmes de falsos registros documentais. Transcorrendo em tempo contínuo, tencionando compor um longo plano sequência, Amizade Desfeita 2 – Dark Web apresenta personagens que controlam os principais elementos estilísticos a fim de desvincular o longa de uma produção cinematográfica industrial e simular um evento real. O uso do suposto tempo real não é novo e sugere mais estranhamento do que medo. O filme repete a configuração que consagrou o predecessor - Amizade Desfeita (2014), dirigido por Levan Gabriadze – porém abandona a temática sobrenatural do primeiro, com o espírito vingativo na rede virtual, para adentrar no universo obscuro da Dark Web – apropriação criminosa da internet por meio do uso de protocolos não rastreados. Essas ações ocorrem pela Darknet, que não necessariamente é ilegal. As manifestações nebulosas pela rede acontecem por sistemas criptografados, com roteamento anônimo, poucas aplicações e visibilidade escondida (AKED; BOLAN; BRAND, 2013). Em Amizade Desfeita 2, a web profunda possui aspectos ainda mais sinistros que envolvem vigilância, jogos sádicos e assassinato. Embora o horror realista seja explorado, uma vez que a Dark Web existe, a obra remete, de certa forma, à relação entre sobrenatural e tecnologia, algo bastante comum no século XIX e com rastros na contemporaneidade (ANDRIOPOULOS, 2014). A interface proibida, com referências ao mundo subterrâneo da mitologia grega, se abre em espiral e aniquila quem por ela navega. É impossível sobreviver fora da Dark Web tendo entrado em contato com os seus mecanismos, expressados no filme na figura de caronte, barqueiro que leva os espíritos pelo Rio Estige até o reino de Hades. Os personagens lutam contra um inimigo oculto, que age nas sombras, e, uma vez acionado, se vale de mecanismos de vigilância, que levam todos a um desfecho mortal. Conforme Eugene Thacker (2015), o que assombra o conceito de escuridão no horror é a possibilidade de pensar o impossível. Há um limite para o conhecimento humano, algo inalcançável. “Isso sugere que não há nada fora, e que este nada-fora é absolutamente inacessível. [...]. Não há nada, e isso não pode ser conhecido” (THACKER, 2015, p. 42). A internet profunda em Amizade Desfeita 2 traz percepções acerca de um limite cognitivo para o desconhecido do mundo, no caso em estudo, na rede. Assim, a estratégia narrativa se potencializa diante da certeza de um abismo que é assustadoramente real. |
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Bibliografia | ACKER, Ana M. O dispositivo do olhar no cinema de horror found footage. Tese de doutorado, PPGCOM, UFRGS. Abr., 2017. |