ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Imagem-acontecimento / Cinema experimental e educação |
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Autor | Gustavo Jardim |
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Resumo Expandido | Como uma imagem nos faz pensar? Como pode-se dar o aprendizado com os filmes? É a partir da articulação destas duas questões que fazemos uma imersão em um conjunto de filmes contemporâneos, buscando encontrar lógicas que lhes são próprias e que nos informem sobre um campo de pensamento específico que deseja-se pesquisar, visando em última instância, entender e aplicar suas dinâmicas em processos formativos, dentre e fora de escolas. Apresentamos em palestra anterior as diferenças entre a utilização das perspectiva do cinema clássico e do cinema moderno em programas de formação por vias cinematográficas. Percebeu-se a dimensão da alteridade como uma força importante nos usos dados ao primeiro cinema, enquanto que para procedimentos do pensamento moderno o que detectamos foi a potência de uma alteração que ganha sentido nas criações desenvolvidas pelo participantes das oficinas . Na investigação que se segue dedicaremos nossos esforços para pensar uma certa região localizada nas searas do cinema experimental, a partir de suas possíveis relações com a filosofia e o aprendizado, procurando buscar novas relações entre o cinema e a educação, que nos forneçam chaves de trabalho para envolver os alunos num pensamento crítico sobre o espaço que ocupam. Quando Gilles Deleuze termina sua obra em dois tomos sobre o cinema e a filosofia, nos colocando questões instigantes sobre os impactos das formas apresentação do tempo e a produção do pensamento nos filmes, algumas questões foram deixadas no ar de forma não menos estimulante. Ao final do trabalho, o filósofo se questiona sobre o que talvez fosse configurar uma nova imagem tempo, algo que surgiria dando os princípios de um cinema que nunca pararia de se reinventar, o que vamos chamar por enquanto de forma genérica de cinema experimental, que Deleuze chamou de uma “noite experimental” ou uma “página em branco”. O autor delineia uma proposição a partir das criações de três cineastas – Michèle Rosier, Chantal Akerman e Agnès Varda – para sentir o cheiro e o corpo daquilo que ainda não era claro no cinema - que nos interessam diretamente no caminho que estamos tateando. A elas acrescentaremos uma quarta – Marie Menken – e nos questionaremos sobre as inquietações trazidas pela relação entre o trabalho de Ana Pi e Tarsila do Amaral, tentando por em cena a questão que nos estimula: como pensar frente a um corpo que abandona os órgãos e os limites do individual para se constituir de todo o espaço que ocupa? “O corpo sem órgãos é um ovo: atravessado por eixos e limiares, latitudes, longitudes e geodésicas, atravessado por gradiantes que marcam as transformações, as passagens e os destinos do que nele se desenvolve. Aqui nada é representativo, tudo é vida e vivido: a emoção vivida dos seios não se assemelha aos seios, não os representa, tal como uma zona predestinada do ovo se não assemelha ao órgão a que dará origem; apenas faixas de intensidade, potenciais, limiares e gradiantes. Experiência dilacerante, demasiado comovente, que torna o esquizo no ser mais próximo da matéria, de um centro intenso e vivo da matéria.” Capitalismo e Esquizofrenia, pág. 24. Sob esta proposta projetada pelo filósofo, intuímos perceber, para além do gesto, um cinema que atua na decomposição e recomposição de um espaço frente ao corpo que nele atua, envolvido por suas virtualidades, acessadas e transformadas pelo realizador e pela câmera que se colocam como sujeitos partícipes, afetando e sendo afetado pelo filme, ou melhor, se tornando com ele próprio um só ente. Um espaço fílmico que ganha sentido atrelado ao mundo real que o envolve, atravessado por um corpo que o desterritorializa. Estabeleceria-se portanto uma outra relação entre a potência e a possibilidade lógica das narrativas, irmanando o corpo ao espaço, promovendo uma linha de fuga que se instaura como um movimento aberrante, ou seja, que produz diferença em si (entre a cena real e ela mesma), como o que chamaremos de uma imagem-acontecimento. |
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Bibliografia | BERGSON, Henri. A evolução criadora. Tradução de Bento Prado Neto. São Paulo: Martins Fontes, 2005. |