ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O silêncio sobre Olga Preobrazhenskaya |
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Autor | Camila Cattai de Moraes |
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Resumo Expandido | A demanda pela recuperação de histórias e obras realizadas por mulheres, principalmente no cinema, cresceu exponencialmente nos últimos anos. Nomes, desconhecidos até então, foram apresentados e fixados nas lacunas deixadas pela história canônica do cinema. A historiografia majoritariamente androcêntrica perdeu credibilidade e não admite-se mais a máxima “as mulheres jamais criaram algo importante” ou “a situação da mulher jamais impediu o surgimento de grandes personalidades femininas” (BEAUVOIR, 2016, p. 191). A ensurdecedora ausência de Alice Guy nos livros convencionais, alarmaram sobre outros casos de diretoras excluídas da história. Dentro dessas profundas lacunas, nesta vastidão de nomes não citados, encontramos a cineasta Olga Preobrazhenskaya. Olga é a primeira cineasta russa. Seu primeiro filme, The Lady Peasant, é de 1916, anterior à Revolução Russa. Diretora de 14 filmes entre 1916 e 1941, Olga é mais uma cineasta eclipsada pela história canônica do cinema. Pretendemos aqui entender porque Olga ocupa esse silêncio, apesar da ousadia de sua extensa obra, priorizando seu filme mais famoso: As mulheres de Ryazan (1927). Após o grande sucesso de As Mulheres de Ryazan, que rendeu quase cinco vezes o investimento aplicado na obra, Olga Preobrazhenskaya foi “excomungada, estava praticamente condenada a inatividade.” (FORD, 1972). A primeira chance de negação de memória à cineasta pela história oficial, e também a que nos parece mais óbvia é: por ser mulher e a primeira autora de filmes russa/soviética, Olga Preobrazhenskaya foi colocada na lacuna da desmemoria. A diluição do trabalho feminino começa a ser reconhecida após correntes de pensamentos como A Teoria do Cinema Feminista e o próprio movimento feminista galgarem certo prestígio. Desde então vêm se escrevendo de forma substancial sobre a mulher. Olga não é exceção. A História, enquanto gesto público de poder, diluiu essas mulheres até à quase invisibilidade, mesmo na Rússia no início do século XX, onde a população trabalhadora era composta majoritariamente por mulheres e crianças, devido ao esforço da Primeira Grande Guerra. (SCHNEIDER, 2017) Porém, sabemos que Olga Preobrazhenskaya não foi declinada apenas por ser mulher. Um dos tutores de Olga Preobrazhenskaya foi o cineasta russo W. R. Gardine. Gardine, segundo críticas severas do poeta Vladimir Maiakowski, “perpetuava em seus filmes as más tradições do cinema czarista”. Maiakowski chegou a classificar o filme O poeta e o Czar (1927) de Gardine como “absurdo e ultrajante”. (FORD, 1972). Olga Preobrazhenskaya era considerada como sucessora imediata de Gardine (FORD, 1972) e foi negada enquanto artista pelos grandes mestres soviéticos. A terceira razão, concluímos, que pode ter apagado Olga da história do cinema soviético foi a recusa da cineasta em fazer filmes para o Partido Bolchevique, exaltando o Exército Vermelho. Seu cinema com protagonistas femininas e ambiente rural é criticado por teóricos e cineastas “revolucionários” (BAGROV, 2013). O chamado Realismo Socialista, após 1929, sob o comando de Stalin, dominou as artes soviéticas, incluindo o cinema, diminuindo a criatividade individual para subordiná-la aos objetivos do partido. Alguns artistas consideraram as restrições impostas como inaceitáveis. Foi o caso de Olga, que nessa época, dedicou-se exclusivamente à atuação de teatro. Entendemos, portanto, que o cinema de Olga Preobrazhenskaya é também revolucionário. A cineasta utilizava-se, por exemplo, de não atores, filmava em locações rurais, questionava o poder físico e psicológico da figura masculina sobre a mulher. Em As mulheres de Ryazan (1927), há uma heroína feminista: Vasilisa, que afronta seu pai quando o vê investindo fisicamente sobre Anna, sua cunhada. Ela não aceita os ordens vazias da figura patriarcal, foge e trabalha para se sustentar. Vasilisa é a personificação de uma mulher forte. Nosso objetivo aqui é discutir as engrenagens que enterraram a obra de Olga Preobrazhenskaya. Até hoje. |
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Bibliografia | BAGROV, Peter. Olga Preobrazhenskaya e Ivan Pravov. In : FARINELLI, Gian Luca; BAGH, Peter von. Il Catalogo dela XXVII edizione de Il Cinema Ritrovato. Bologna: Fondazione Cineteca di Bologna, 2013 |