ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | CINEMA, PATRIMÔNIO, MEMÓRIA E TECNOLOGIA. SOBRE ORIGENS E DESCOBERTAS |
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Autor | João Guilherme Barone Reis e Silva |
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Resumo Expandido | Este novo experimento da pesquisa Interseções tecnológicas, espaço e tempo. O bias do audiovisual, é voltado para observações sobre as origens dos processos que possibilitaram a organização de padrões para a permanência da obra audiovisual no espaço-tempo inaugurado pelo cinema. A proposta é de revisitar o período inicial, de 1894-1905, em busca de evidências que demonstram a busca pelo controle do master como forma de assegurar a produção de cópias. A posse e a guarda do master é o que dá início ao patrimônio das primeiras companhias cinematográficas nesse período. Para tanto, surgem as tecnologias que permitem o arquivamento e preservação dos masters, essenciais para a confecção e distribuição de cópias ao circuito exibidor nascente - e em expansão- igualmente operado pelas companhias produtoras. São estas tecnologias, baseadas na configuração físico-química do suporte fílmico, que possibilitam um avanço sistemático da circulação espacial da obra cinematográfica e a sua permanência no tempo. Logo, o pressuposto é de que a organização dos primeiros arquivos fílmicos, corresponde ao processo de construção do patrimônio das empresas, antecedendo uma preocupação com a memória e a preservação, que se configura somente com o surgimento das cinematecas, na década de 1930 (exceção da França, com iniciativas em 1926). Na sistematização desta pesquisa, operamos uma transposição dos enunciados de Harold Innis(1991) para o campo audiovisual, na busca dos indicadores de um bias tecnológico que nasce e se desenvolve com o cinema e fornece padrões para o audiovisual. Nesse sentido, é a configuração fisica do suporte fílmico, como decorrência de diferentes interseções tecnológicas (física, química, mecânica), a determinante das suas condições de circulação espacial e permanência no tempo. Importante notar a transição ocorrida entre 1894 e 1905, período que corresponde a uma gênesis industrial do cinema, quando o foco da atividade desloca-se da venda de equipamentos - câmeras e projetores- para a exploração do espetáculo público cinematográfico. Essa condição, corresponde igualmente ao interesse crescente do público pelos filmes e pressupõe a expansão do negócio com a produção diversificada de títulos, cuja maior circulação se concretiza pela quantidade de cópias alcançada. Tal deslocamento pode ser observado nas trajetórias de Tomás Edison e dos Irmãos Lumièré. Ambos acreditaram inicialmente que os resultados viriam da venda de equipamentos e, em pouco tempo passaram a atuar também como produtores de seus próprios filmes, aferindo lucros mais substanciais com a venda de cópias. Muitos são os relatos dispersos sobre filmes cujos negativos foram destruídos em decorrência do desgaste pela grande confecção de cópias. Caso emblemático é o do pioneiro da indústria cinematográfica do Reino Unido, Sessill Hepworth, ao produzir o filme Rescued by a Rover, em 1905, conforme registro no Episódio 1 da série Cinema Europa (Kevin Brownlow e David Gill, Reino Unido - Alemanha, 1995). Dirigido por Luanne Fitz Heymann, com orçamento de sete libras esterlinas, contava a história do sequestro de um bebe por uma cigana e o seu resgate pelo cão da família. Inovador pelo uso da montagem para criar a tensão necessária a um filme de suspense, as vendas mundiais de cópias foram equivalentes a um blockbuster. Para atender a grande demanda, foram necessárias duas refilmagens, uma vez que os negativos não suportavam o desgaste do processo de copiagem intensa. Neste relato, a evidência da alta capacidade de reprodutibilidade técnica do suporte fílmico, no mais absoluto sentido Benjaminiano. Ao mesmo tempo, o indicador do início de um aprendizado que leva ao estabelecimento de um ambiente tecnológico especifico, capaz de assegurar a guarda, a preservação e o correto arquivamento dos negativos, bem como a confecção de cópias em grande escala. Notar ainda que neste período, o cinema já circula regularmente entre continentes., |
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Bibliografia | ACLAND, R. Charles and BUXTON, William J. (editors). Harold Innis in the new century. Reflections and refractions. McGill-Queen`s University Presss. 1999. |