ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A montagem do cinema screenlife |
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Autor | Ana Lucia Lobato de Azevedo |
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Coautor | Alex Ferreira Damasceno |
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Resumo Expandido | A presente proposta tem como objetivo refletir acerca da montagem característica da tendência do cinema contemporâneo conhecida como Screenlife, um formato de filme em que a narrativa é ambientada totalmente em uma tela de computador. Analisaremos os filmes desse formato que obtiveram maior sucesso comercial – Amizade desfeita (dir. Levan Gabriadze, 2015) e Buscando... (dir. Aneesh Chaganty, 2018), – ambos realizados pela mesma produtora (Bazelevs), que tem a frente o diretor e produtor russo Timur Bekmambetov, o principal representante e defensor do screenlife. Os realizadores ligados ao screenlife defendem que o formato pode operar qualquer gênero cinematográfico. Há, de todo modo, uma maior incidência de filmes ligados à investigação de conflitos cuja ocorrência e divulgação se dão nos ambientes da web, e se constituem em situações que expõem pessoas, levando-as a viver eventos violentos ou mesmo fatais. Desse modo, é na rede, esse enorme banco de dados, que se encontram e se difundem os fatos vivenciados, que acabam por se constituir nos caminhos investigativos e fornecer as provas para embasar a resolução dos conflitos. Desse modo, as tramas sempre se desenvolvem com personagens que operam a interface gráfica do usuário (GUI). Embora o computador seja o espaço da diegese, o filme screenlife visa ser assistido nas condições padrão de exibição do dispositivo cinematográfico, o que o diferencia do cinema interativo. Temos, assim, uma forma narrativa que nasce de uma convergência muito particular das convenções do cinema e das novas mídias, do modo como postula Manovich (2000). A análise se concentrará no tipo de montagem que resulta dessa convergência de códigos. Segundo Manovich, a montagem característica da GUI é de tipo espacial, em que são abertas diversas janelas, as quais tanto podem permanecer na tela uma ao lado da outra, ou uma sobre a outra, quanto serem abertas a qualquer momento, por permanecerem ativas. Essa modalidade se distingue da montagem cinematográfica que, em geral, segue a lógica temporal, da sequência de planos. Por outro lado, é importante apontar que alguns cineastas, como Greenway e Godard, se utilizaram da montagem espacial. Dubois também defende que a montagem cinematográfica se dá através de relações horizontais das imagens, mas ressalta que as experiências do vídeo trabalham com uma acumulação vertical (uma mixagem), de modo que a montagem passa a se dar no interior do quadro, como nos procedimentos de sobreimpressão, incrustação e janela. Nessa via, merece destaque o trabalho de Vertov, que se utilizou dos procedimentos de montagem, que se disseminaram com o vídeo, antes mesmo de seu advento. No caso dos filmes que serão abordados, observa-se apenas o uso de janelas, a partir das quais somos levados tanto a espaços virtuais, como a lugares e situações que foram filmadas pelos usuários envolvidos na trama, e por eles trazidos à tela a partir de seus bancos de dados. Diferentemente do processo de mixagem do vídeo, que explora modos de associação mais livre e variados, guiados pelas próprias imagens (DUBOIS, 2004: 91), no screenlife, a ativação das diferentes janelas se dá a partir da trama, de uma lógica causal própria da montagem do cinema clássico, que leva a acionar uma determinada janela em busca do desvendamento e solução da situação vivenciada pelas personagens. Em Amizade desfeita, essa lógica causal clássica, todavia, não leva a uma montagem analítica do espaço da tela, o que resulta em uma composição apenas espacial, típica da GUI. Já em Buscando..., há uma efetiva mistura das composições espaciais e temporais, de modo que a montagem conduz o olhar do espectador pelo espaço da tela por meio de uma sucessão de planos que segue o princípio da continuidade. Nesse sentido, pretendemos relacionar a montagem do screenlife com a que se dá em outros estilos, em particular o cinema clássico, investigando em que medida determinadas operações se realizam. |
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Bibliografia | AMIEL, Vincent. Estética da montagem. Lisboa: Texto & Grafia, 2010. |