ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | GLAUBER & WELLES - um estudo comparativo |
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Autor | Josafá Marcelino Veloso |
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Resumo Expandido | Ambos prodígios. Vinte quatro anos de idade, Glauber realizava no sertão Deus e o diabo. Welles, em Hollywood, realizava com vinte quatro anos, Cidadão Kane. Dois marcos indeléveis da modernidade cinematográfica. Dois diretores autores auto exilados. Que buscaram em outros continentes dar continuidade à suas aventuras de vida obra. Glauber e Welles, versões peculiares de um "Dom Quixote"? Dois "mavericks", pelo menos, amaldiçoados por suas ideias à frente de seu tempo. Amaldiçoados por uma certa ideia de "gênio". Glauber, um revolucionário. Welles, um "classic liberal". Quais as implicações de tal "duelo" nos projetos de Glauber e Welles? Como dois "mavericks" do cinema de autor se aproximam e se distanciam em obras comparadas como Barravento e o episódio inacabado do projeto It's All True - Four man on a Raft? Ambos os filmes sobre pescadores/jangadeiros em luta contra as adversidades sociais e climáticas. Terra em transe e Cidadão Kane postos lado a lado elucidará como formalmente estas duas obras-primas se encontram e se chocam em fino duelo de autores que, no limite, buscavam o mesmo objetivo, versavam sobre a mesma inquietação: a liberdade do homem. Ou melhor dizendo (no caso de Welles), a verdadeira democracia. O caminho para a conquista de tal liberdade passaria fundamentalmente por uma mais adequada representação cinematográfica do Outro: o preto, o latino, o índio. Todos americanos. Se Godard chegou a dizer que todos os cineastas deviam algo a Welles, Glauber seguramente também devia. Em um artigo dedicado a Welles, Glauber dá uma interpretação única da obra wellesiana em todo mundo. Isso dito após a leitura da maior parte da bibliografia sobre Welles. Diz Glauber: "Se Orson Welles recusa o cinema como instrumento de criação, não é por falta de crença no fato fílmico. Sua indignação é a impossibilidade em dispor desses meios com os quais poderia alcançar uma Nova Dimensão, a região interpretativa ainda indevassável da existência do homem sobre a Terra. Quando se fala no ‘imponderável’ que a câmera poderia descobrir e a montagem poderia criar (tornar ‘ponderável’, ‘real’), muita gente pensa que se trata de uma utopia ou de uma atitude ‘formalista’, como se esse ‘formalismo’ fosse reacionário (...). Recusa-se uma existência formalista para o cinema porque seu próprio e incontido poder de criar no conflito a problemática imprevisível leva até mesmo o intencional jogo da forma pela forma abstrata de criar uma Entidade. Partindo daí (e numa sala de montagem temos verificado que o princípio teórico se realiza na prática) podemos romper com o cinema narrativo-literário e partir para aquele em que a câmera e a montagem CRIAM uma dimensão fílmica sobre o tema e não CONTAM uma Heuztória com pré-existência literária. Depois de Eisenstein, nunca um cineasta foi tão fílmico como Orson Welles (...). Se Eisenstein foi o maior intérprete da revolução soviética e das transformações radicais trazidas pelo socialismo, OW é o maior intérprete da tragédia imperialista." (ROCHA, 2006: 49). Estão aí muitas chaves de entendimento absolutamente profundo do cinema de Welles. Será que Glauber concordaria sem pestanejar com Rogério Sganzerla ao dizer que o melhor caminho para o cinema moderno é esse: Eisenstein com Orson Welles? E há alguma dúvida, após a leitura desta citação, de que Glauber não poderia buscar em sua linguagem no cinema algo senão o "imponderável", uma "Entidade", uma "Nova Dimensão"? Glauber buscara, enfim, o "fato fílmico". |
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Bibliografia | BAZIN, Andre. Orson Welles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. |