ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O corpo da cineasta: auto-inscrição no cinema feminista de vanguarda |
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Autor | Luana Mendonça Cabral |
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Resumo Expandido | A noção de autoria no cinema apresenta-se como um conceito complexo, por vezes contraditório e polêmico. Como coloca Jean Claude Bernadet, embora a "Política dos Autores” proposta pelos críticos da revista francesa Cahiers du Cinema entre 1950 e 1960 tenha apresentado um novo paradigma para os estudos autorais, referências à figura do autor no cinema se faziam presentes já no vocabulário de intelectuais como o cineasta Jean Epstein e o romancista Alexandre Arnoux. De lá pra cá, diversas proposições acerca do tema foram feitas, a partir de diferentes matrizes teóricas. Não raro, tais proposições derivam de estudos de autoria vindos de outros campos das artes, principalmente da literatura, e também dos trabalhos de autores das ciências humanas dedicados a essa temática, como Barthes, Foucault e Agamben. Em seu livro "Performative Authorship: self-inscription and corporeality in the cinema" (2013) Cecilia Sayad deriva do pensamento de de auto-construção da autoria presente no trabalho de Foucault para propôr o conceito de autoria performática, compreendendo o gesto de inscrever-se na mise-en-scène a partir das ideias de corporalidade e presença por ele invocadas. Sayad analisa filmes de cineastas como Eduardo Coutinho, Woody Allen, Jean Rouch, Orson Welles, Agnès Varda e Sarah Turner. Nosso esforço aqui passa, portanto, por expandir as referências de filmes realizados (ou co-realizados) por autoras mulheres nos quais a auto-inscrição performática da realizadora se torna um recurso estético, sobretudo nos domínios do cinema experimental e de vanguarda. Durante as décadas de 1960 e 1970, momento em que o feminismo europeu experimentava o auge de sua efervescência, o campo do cinema foi diretamente afetado pelo pensamento político-teórico da Segunda Onda Feminista. A década de 1970 marca o nascimento da Teoria Feminista do Cinema a partir da publicação de seus textos inaugurais, da atividade de revistas como Screen e Camera Obscura, e da realização de festivais como o New York Internacional Festival of Women’s Films (1972). Para além de Agnès Varda, que já utilizava a auto-inscrição em seu cinema, principalmente documental, desde meados da década de 1960, cineastas como Carolee Scheeneman (Fuses, 1965), Chantal Akerman (Eu, tu, ele, ela, 1974) e Barbara Hammer (Dyketactics, 1974) buscavam na linguagem e através do próprio corpo formas de evidenciar sensibilidades e subjetividades. Numa outra chave, Delphine Seyrig e Carole Roussopoulos (S.C.U.M Manifesto 1967, 1976), assim como Laura Mulvey e Peter Wollen (Riddles of the Sphinx, 1977), apostavam na inscrição da própria voz e do gesto enunciativo como recurso estético. Ainda, o exemplo de Helke Sander (The All-Around Reduced Personality, 1978) conjuga a corporalidade da realizadora e as potencialidades de enunciação evocadas a partir da inscrição da fotógrafa (interpretada pela própria cineasta) na narrativa. De certo, esses filmes não inauguram muito menos encerram as possibilidades de auto-inscrição da cineasta no cinema - lembremos dos filmes da pioneira Maya Deren (Meshes of the Afternoon, 1943), bem como do trabalho de cineastas contemporâneas como Trinh t. Minh ha (Reassemblage, 1982) e Cheryl Dunye (Watermelon Woman, 1992). Todavia, cada um desses filmes se vale da autoria performática como estratégia formal e/ou narrativa, articulando-a entre o universo particular de seus interesses estéticos, afetivos e políticos. No caso de "Fuses" e "Eu, tu, ele, ela", o corpo representado em tela, a espectatorialidade e sexualidade, todas questões caras à teoria feminista do cinema, são flexionadas também a partir de questionamentos sobre olhar, identidade e subjetividade. Temos que os tipos de corpos e sexualidades colocados, assim como as questões estéticas e políticas por eles levantadas, refletem a influência do pensamento da Segunda Onda dentro das discussões sobre cinema e feminismo que permeavam aquele contexto, na teoria e na prática. |
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Bibliografia | BERNADET, Jean-Claude. O Autor no Cinema. A política dos autores: França - Brasil - anos 1950 e 1960. 2 ed. atualizada. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018. e-PUB. |