ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Robert Stam leitor de Machado de Assis |
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Autor | Luiz Antonio Mousinho |
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Resumo Expandido | Pretendemos investigar aspectos da leitura que o teórico do cinema e da cultura Robert Stam fez da adaptação do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, realizada pelo cineasta André Klotzel (STAM, 2008). Daremos ênfase à observação das questões de como o autor lê as relações entre ficção e sociedade tensionadas pelo texto-fonte e pela adaptação cinematográfica, ressaltando o que Stam afirma quando diz que o que lhe “interessa é a historicidade das próprias formas, a maneira pela qual as escolhas estilísticas em termos de gênero, voz e ponto de vista ressoam o que a translinguística chama de ‘avaliações sociais’ ”. (STAM, 2008, p.38). Nos apoiaremos em categorias narratológicas como narrador, focalizador (GENETTE, s/d; JOST; GAUDREAULT, 2009, STAM, 1992) e personagem (CANDIDO, 1992; SALLES GOMES, 1992), e nas discussões sobre ficção e sociedade (CANDIDO, 2000; SHOHAT, STAM, 2006; AUMONT, 1995; MARTIN, 2003), levando em conta ainda o conceito de dialogismo (BAKHTIN, 1981; STAM, 1992) mobilizadas na observação da leitura feita pelo teórico e crítico. Acrescentamos ainda ao corpus, ao final, o contraponto da adaptação de Dom Casmurro para a televisão na microssérie Capitu, dirigida por Luiz Fernando de Carvalho, onde alguns aspectos debatidos por Stam na obra machadiana estão, a nosso ver, contemplados. Em A literatura através do cinema, Robert Stam aborda um espectro amplo de obras adaptadas para o cinema, dentre elas várias narrativas brasileiras. Observando, por exemplo, A hora da estrela, de Clarice Lispector, situa a novela literária como estando filiada à “tradição reflexiva de Cervantes, Fielding, Sterne e Machado de Assis”, com um narrador que “dá ênfase às escolhas envolvidas na escrita”. No capítulo dedicado a Memórias póstumas de Brás Cubas e sua adaptação por André Klotzel, Robert Stam destaca como avanço nos gestos tradutórios de Klotzel o afastar-se em relação às narrativas cinematográficas tradicionais, que investem no enredo e elidem o caráter de constructo da obra, ressaltando na adaptação vasta presença do personagem-narrador defunto Brás Cubas, posto em cena, com as problematizações metalinguísticas e metaficcionais que constituem o texto-fonte. Ao mesmo tempo o texto de Stam aponta lacunas quanto a tematização sobre questões como a escravidão no Brasil, agudas em Machado, laterais no filme de Klotzel. Lembrando, com Maria Lúcia Dal Farra, que “a voz original do romance não é propriamente aquela que se desprende da boca do narrador, mas o acorde de vozes propagadas na ampla abóbada acústica do romance”, refletiremos sobre a relação do personagem-narrador-focalizador na obra de Machado e no filme de Klotzel em correlação com outros dados das narrativas literária e cinematográfica, tentando perceber como os mesmos velam, revelam, acentuam ou elidem aspectos relativos às suas contradições de classe. E lembrando como numa narrativa focalizada, com ponto de vista limitado, há um olhar mais amplo construído pela obra que pode ser fortemente discordante da perspectiva do personagem-focalizador. Como contraponto pontual, tentaremos analisar em que medida outra adaptação da obra machadiana, a microssérie Capitu, adaptada de Dom Casmurro, responderia a algumas provocações colocadas pelo pesquisador ao final de seu texto sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas, no que se refere ao esmaecimento de certo olhar sobre o social. O diálogo entre as obras observadas e seus contextos, rastreando as vozes textuais (Stam; Shohat, 2006) que as informam, procurará ressaltar aspectos estéticos das próprias obras, ao mesmo tempo trazendo a oportunidade de problematizar o debate teórico em relação às distinções entre câmera subjetiva e focalização, entre focalização e narrador, sobre ficção e sociedade. Buscaremos, em suma, acompanhar o debate teórico e crítico de Stam, procurando suplementá-lo na abordagem das duas obras. |
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Bibliografia | AUMONT, J. et. al. A estética do filme. Campinas: Papirus, 1995. |