ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Cisgeneridade e transgeneridade no espaço físico do cinemão |
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Autor | Helder Thiago Cordeiro Maia |
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Resumo Expandido | A partir da análise de quarenta e quatro textos literários e de vinte nove antropológicos, constatamos que a cisgeneridade ou a transgeneridade dos autores desses textos se relacionam diretamente não só com quais corpos são narrados, mas também como esses corpos são narrados. Assim, considerando os textos literários, podemos dizer que 87,5% dos autores são homens cisgêneros e 12,5% são mulheres trans. Não há, portanto, textos literários escritos por mulheres cis ou por homens trans. Analisando os textos antropológicos, e levando em consideração os textos com coautoria, podemos dizer que 94,55% dos pesquisadores são homens cisgêneros e 5,55% são mulheres cisgêneras. Não há pesquisadoras nesse campo que sejam mulheres ou homens trans, o que mostra o quanto esses sujeitos ainda estão alijados da pesquisa acadêmica. Nesse sentido, a hegemônica produção antropológica de homens cis nos ajuda a entender o porquê da maioria desses textos construírem uma narrativa a partir da perspectiva do usuário cis do cinemão. No campo literário, a hegemônica produção cisgênera masculina se não reflete uma multiplicidade de corpos dos narradores e personagens, ao menos constrói uma multiplicidade de posicionalidades do homem cisgênero dentro dos cinemas pornôs. No campo da antropologia, as pesquisadoras cisgêneras também privilegiam, como principal interlocutor, o homem cisgênero que ocupa o espaço como cliente. Parece-nos ainda haver uma relativa colonização dessa fala a partir da perspectiva dos homens cis. No campo literário, não encontramos nenhum texto produzido por autoras cisgêneras e, talvez, por conta disso, nenhum texto consiga produzir uma voz ou uma narrativa própria para as mulheres cis dentro do cinemão. Na antropologia, cabe destacar a total ausência de homens e mulheres trans que produzem pesquisa nessa área. Além disso, os homens trans também não produzem literatura e nem mesmo relatos eróticos, assim como também não são representados na produção antropológica e literária. Se é questionável a afirmação de que esses sujeitos não frequentam os cinemas pornôs, é recorrente entre os mesmos a afirmação de que não só a voz, como também as demandas deles, são inaudíveis à maior parte das pessoas. Recuperando e repensando algumas considerações de Preciado (2018), podemos dizer que os homens trans são como fantasmas que estão marcados por uma total ausência de representação. As mulheres trans e travestis quase sempre aparecem nas narrativas antropológicas de pesquisadores cisgêneros. Essa produção, entretanto, constrói o lugar das mulheres trans sempre a partir da prostituição; não aparecendo, por exemplo, travestis como clientes do espaço. É no campo literário onde encontramos uma maior polifonia e posicionalidade dos corpos trans, especialmente através dos textos de Naty Menstrual (2008, 2009) e Susy Shock (2013). Esses textos rompem com a narrativa antropológica, que circunscreve esses corpos exclusivamente à prostituição, e reescreve a história travesti no cinema pornô também como usuárias. A polifonia de vozes das travestis, portanto, ainda que não seja tão grande quanto a dos textos que narram a experiência do homem cisgênero, apresenta posicionalidades que extrapolam a narrativa única da antropologia. |
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Bibliografia | BAGAGLI, Bia Pagliarini. O que é cisgênero. Disponível em: . Acesso em 18 abril 2019. |