ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A distribuição de filmes no Brasil ou o eterno trabalho de Sísifo. |
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Autor | Mannuela Ramos da Costa |
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Resumo Expandido | A despeito da narrativa quase apocalíptica acerca da difícil sobrevivência das salas de cinema no Brasil e no mundo, frente às outras janelas disponíveis, há mais de uma década; e mesmo sabendo que, de mais a mais, há menos motivações para que nós, espectadores, troquemos o conforto de nossas residências por um lugar na sala escura para viver a experiência do filme no cinema, o lançamento de filmes na sala de cinema permanece a tônica dos debates públicos quando o assunto é aferição de bom desempenho de produções cinematográficas brasileiras. A rigor, essa é uma obrigatoriedade para os que produzem filmes a partir de verbas oriundas do FSA (fundo setorial do audiovisual). Porém, lançar filmes nos cinemas brasileiros tem sido o momento de maior incerteza para produtores e distribuidores, que se veem compelidos a tornar essa ação eloquente, a fim de garantir um bom resultado que, em última instância, influenciará as chances das futuras produções protagonizadas por esses agentes. Em média, o filme brasileiro é lançado em uma quantidade de salas que varia entre 20 e 30, com uma ou duas sessões diárias na primeira semana, o que segundo Silva (2010), os situaria entre filme de nicho ou filme médio (com um número de salas maior e maior investimento em promoção), e, a depender do caso, filme para exportação. Apesar do crescimento em 100% do número de filmes brasileiros lançados entre os anos de de 2007 a 2016, e do crescimento do número de distribuidoras em território nacional ser de 152,27% dentro do mesmo período, a quantidade de público que consome esse tipo de produto audiovisual não possui uma curva de crescimento constante, passando por intermitências durante os anos analisados, como é possível observar pelos índices de participação de mercado divulgados anualmente pela Ancine. Em 2018, houve uma queda de 12,6% na venda de ingressos/espectadores no público geral da janela. Do ponto de vista estatal, há diversos programas e ações da Ancine no intuito de dinamizar esse elo da cadeia. No Programa Brasil de Todas as Telas (2014), apontava-se que “o crescimento do volume de produção exige um aumento da capacidade de distribuição”, e ainda que o plano de investimentos se dedicava, entre outras coisas, a “ (…) expandir, modernizar e descentralizar o parque exibidor, facilitando o acesso da população ao cinema” (ANCINE, 2014). E, de fato, em 2018, o Brasil superou o número de salas de cinema que tinha em 1975, ano considerado para o parâmetro desse índice, até então. Em 2018 contabilizaram-se 3.279 salas, contra 3276 de 1975. Já em 2017, 100% do parque exibidor brasileiro era digitalizado (ANCINE, Informe de Exibição, 2017). Metas que foram atingidas por meio de políticas públicas que estimularam não apenas a criação, mas também a digitalização das salas de cinema no território brasileiro, através do programa “Cinema Perto de Você”, que prevê o financiamento para ampliação e modernização do parque exibidor. Outras medidas, como aplicação da Regra da Dobra (criada originalmente em 1977) e a aferição de público por sessão. Isso sem falar nos fomentos criados especificamente para distribuição e promoção do filme nacional, disponível para produtores e distribuidores. As causas elencadas pelo senso comum para as dificuldades enfrentadas pelo filme brasileiro são: o preço do ingresso, que é proibitivo para uma parcela da população; a concentração de salas em conglomerados urbanos e capitais; o sistema multiplex; e a concorrência predatória dos filmes norte-americanos. Mas seria possível resumirmos tão taxativamente a difícil penetração do filme brasileiro no mercado interno? Seria bom, se assim o fosse. A questão nos parece mais complexa para ser respondida dessa forma. E é evidente que há predominância de uma visão de política que privilegia esta janela e tem tornado produtores e diretores reféns de outros agentes do mercado, mesmo com sinais claros das diversas dificuldades que estão em jogo no consumo do cinema na contemporaneidade. |
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Bibliografia | AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. São Paulo: Hucitec, 2013. |