ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A Jornada Brasileira de Cinema Silencioso e os festivais italianos. |
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Autor | Vivian Malusá |
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Resumo Expandido | Na década de 1980, na Itália, foram criados dois festivais de filme de acervo, que logo se tornaram os principais do gênero, em nível mundial: as Giornate del Cinema Muto (1982), jornadas promovidas pela Cineteca del Friuli, que acontecem em Pordenone e que apresentam filmes silenciosos, e Il Cinema Ritrovato (1986), cujo foco são filmes “redescobertos”. Ambos trouxeram consigo o arcabouço da questão patrimonial. A partir da década de 90, esses festivais se tornaram referência para a criação de muitos outros festivais e eventos que, além de exibir filmes raros, silenciosos, preservados ou restaurados - dependendo de suas curadorias mais específicas -, tinham como uma das características celebrar os filmes de patrimônio e o campo da preservação cinematográfica, a exemplo de CinéMémoires, Festival Lumière, Zoom Arrière, na França, Crazy Cinématographe, em Luxemburgo, San Francisco Silent Film Festival, nos EUA, entre outros. Entre 2007 e 2012, a Cinemateca Brasileira promoveu a Jornada Brasileira de Cinema Silencioso. Em linhas gerais, o evento contava com 10 dias de programação intensa com exibição de filmes silenciosos (com/sem acompanhamento sonoro ao vivo), palestras, mesas de debates, exposições, lançamentos de livros, entre outras atividades, a depender da edição. Embora houvesse muitas particularidades, a programação da Jornada se aproximava do formato dos dois eventos italianos. Os pesquisadores Francesco di Chiara e Valentina Re apontam para a necessidade de aprofundamento em uma historiografia do cinema que pense os festivais como um campo autônomo de pesquisa, que seja capaz de examinar como as estratégias empregadas por eles - sua estrutura, programação, materiais de divulgação, catálogos, mesas redondas, ou mesmo as características de seu público - puderam e podem impactar os caminhos teóricos da história do cinema. Marie Frappat, pesquisadora que tem se debruçado sobre temas relacionados às atividades de cinematecas e arquivos de filmes, batizou de “escola bolonhesa” de restauração os trabalhos realizados na cidade de Bolonha, na Itália, no campo do patrimônio cinematográfico. Segundo a autora, a escola é estruturada em três bases: o que ela chama de trabalhos da cinemateca como local de conservação e difusão, o laboratório, e a academia. Pode-se substituir por: Cineteca di Bologna, laboratório L'immagine ritrovata - em Bolonha, apesar do laboratório ser ligado à Cineteca, ele presta serviços a outras cinematecas e distribuidoras, sendo bastante independente dos trabalhos gerais da própria cinemateca -, e o departamento de cinema da Universidade de Bolonha, cujo embasamento e proposições teóricas foram fundamentais principalmente em um primeiro momento do festival. Em um momento da história em que a exibição digital nas salas de cinema substituiu em grande medida a projeção de filmes em película, estes festivais de filmes de arquivo buscam manter e valorizar o trabalho relacionado à preservação fílmica e o acesso aos filmes da forma mais próxima a que foram concebidos. Esses eventos são oportunidades para o arquivo olhar para sua coleção com ainda maior atenção, percebendo necessidades maiores de conservação e de restauração, descobrindo e divulgando pérolas, investigando e tomando decisões curatoriais. Ao observar de perto da programação de tais festivais, percebe-se que as ações de preservação de uma cinemateca impulsionam a difusão de filmes e ações de difusão impulsionam a conservação, modificando de vez a “dicotomia histórica” para um outro paradigma, onde difunde-se para preservar e preserva-se para difundir. Esta comunicação tem como objetivo levantar pontos de aproximação entre a programação da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso e os eventos italianos supracitados, analisando suas edições sob a perspectiva de que as atividades contemplavam, de maneira concentrada, todas as missões de uma cinemateca: enriquecer a coleção, preservar (catalogação, conservação e restauração) e dar acesso. |
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Bibliografia | DI CHIARA, Francesco e RE, Valentina. Film Festival/Film History: The Impact of Film Festivals on Cinema Historiography. Il cinema ritrovato and beyond. Cinémas : revue d'études cinématographiques, disponível em http://www.erudit.org/revue/cine/2011/v21/n2-3/1005587ar.html, acesso em 12 set. 2014. |