ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A representação do conflito socioambiental no documentário rondoniense |
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Autor | Juliano José de Araújo |
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Resumo Expandido | A Amazônia tem passado, no decorrer da história, por vários “surtos devassadores”, todos relacionados à expansão capitalista mundial. Esse processo de devassamento da Amazônia – iniciado ainda no século XVI com a busca pelas drogas do sertão, passando pelo ciclo da borracha no final do século XIX e início do XX, e pelas frentes agropecuárias e minerais provenientes do Nordeste, a partir de 1920 – acentuou-se com os programas e projetos capitaneados pelo governo militar após o golpe de 1964, tendo em vista que a ocupação da região tornou-se prioridade para o Estado nesse período (ARBEX JÚNIOR, 2005; BECKER, 2015). Algumas ações empreendidas pelos militares na Amazônia foram o Programa de Integração Nacional (PIN), que teve como objetivo a extensão da malha rodoviária e a implantação de projetos de colonização oficial, lançado em 1970; o Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (Poloamazônia), de 1974 e que tratou da elevação do rebanho, melhoria de infraestrutura urbana e mineração; e o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste), projeto de 1981 para a pavimentação da BR-364, que liga Cuiabá a Porto Velho, e promoção da colonização em Rondônia (BECKER, 2015). “Integrar para não entregar” e “Terras sem homens para homens sem terras” foram os slogans criados no âmbito do PIN e alardeados pela propaganda governamental, tendo em vista que a proposta do Estado era ocupar um espaço considerado como suposto “vazio demográfico”, ignorando totalmente as populações que ali já habitavam. Isso fez com que a região se tornasse cenário de inúmeros conflitos socioambientais envolvendo, de um lado, os povos indígenas, os seringueiros e os ribeirinhos e, de outro, uma multidão de migrantes provenientes do Nordeste e Sul do Brasil, em conjunto com grandes empreendimentos capitalistas, notadamente com a entrada do capital do exterior e nacional do Sudeste (BECKER, 2015; KITAMURA, 2017). Nesse contexto, este trabalho pretende discutir a representação do conflito socioambiental no âmbito da produção audiovisual de não-ficção de Rondônia. Para tanto, o documentário rondoniense Os requeiros (1998), do casal de realizadores Lídio Sohn e Pilar de Zayas Bernanos, foi escolhido como corpus. A história do garimpo Bom Futuro, em Ariquemes, município do interior de Rondônia, é o tema desse documentário, que mostra como era a vida dos requeiros – os garimpeiros que trabalham manualmente – antes da chegada das grandes empresas mineradoras e da intervenção do governamental no garimpo, o que gerou muitos conflitos. Com a crescente dificuldade da extração da cassiterita, aos poucos o garimpo foi se desfazendo e os requeiros indo embora. O que antes abrigou mais de 20 mil pessoas, em 1997, só registrava 1.500, deixando uma grande área devastada. Tendo como como metodologia a análise fílmica (AUMONT e MARIE, 2009), a partir do diálogo entre elementos internos (imagem, som etc.) e externos (como uma entrevista com a cineasta Pilar de Zayas Bernanos) ao documentário, procura-se refletir sobre a representação fílmica (NICHOLS, 2016; RAMOS, 2008) feita pelos realizadores do conflito socioambiental, tão presente no cotidiano da região, problematizando a relação entre a ideologia desenvolvimentista do Estado e a degradação ambiental (BECKER, 2015; KITAMURA, 2017). Busca-se também pensar as estratégias empregadas pelos realizadores na construção dessa narrativa audiovisual, tais como os testemunhos através de entrevistas e depoimentos, o uso de imagens de arquivo e o comentário em voz over, além de se considerar o potencial dos recursos audiovisuais como processos discursivos alternativos à história oficial (FERRO, 2010). |
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Bibliografia | ARBEX JÚNIOR, José. “Terra sem povo, crime sem castigo. Pouco ou nada sabemos de concreto sobre a Amazônia”. In: TORRES, Maurício (Org.). Amazônia revelada: os descaminhos ao longo da BR-163. Brasília: CNPq, 2005. |