ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O cinema de arquivo e o conceito de inconsciente ótico de W. Benjamin |
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Autor | Flavio Guirland Vieira |
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Resumo Expandido | Morgan Fischer é um realizador pertencente ao cinema experimental americano, em atividade desde os anos 1970, e é considerado um dos cineastas canônicos do movimento. O seu filme () a.k.a. Parentheses (2003) é constituído inteiramente de imagens de arquivo – imagens obtidas de filmes narrativos da indústria do cinema, os chamados “filmes B”, nenhum deles familiar ou facilmente reconhecível. São imagens irrelevantes que, por esquecimento ou deterioração, provavelmente teriam se perdido. Entretanto, a maneira como o filme encadeia os planos, nos ajuda a perceber alguns aspectos da narratividade audiovisual tal como foi praticada em um certo período da história do cinema. Assim, o filme nos proporciona uma análise do funcionamento da narrativa clássica, dentro de um repertório específico de imagens, oferecendo-nos, desse modo, um acesso ao inconsciente ótico do cinema de gênero. O inconsciente ótico é um termo que Walter Benjamin utilizou numa variedade de conotações, em diferentes ensaios. Miriam Hansen, em seu livro Cinema and Experience, observa que “o inconsciente ótico refere-se principalmente à projeção psíquica e à memória involuntária acionadas no espectador quando ele percebe algo oculto nas imagens, algo que ninguém percebeu na época em que elas foram exibidas.” Na interpretação de Hansen, “o lampejo fugidio de um momento pertencente ao passado” pode ser lido “em termos de uma indicialidade fotográfica entendida em seu senso estrito”, mas ela explica que Benjamin buscava entender a imagem fotográfica – aqui a imagem cinematográfica – como uma forma de “preencher a lacuna entre a inscrição e a recepção”, ou, em outros termos, entre o passado e o presente. Portanto, o conceito de inconsciente ótico está ligado a um outro conceito fundamental na obra de Benjamin, o de interpretação dialética da história. O inconsciente ótico apresenta-se, então, como um “link” entre a tecnologia e o imponderável, mas ele opera também como uma função do inconsciente coletivo – uma forma invertida do conceito de fantasmagoria, uma vez que o passado aqui evocado não é privado, mas coletivo, um “passado de arquivo”. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de História. In: Obras escolhidas I. São Paulo: Brasiliense, 1996. |