ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Comparando filmes – Siegfried Kracauer e Pierre Sorlin. |
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Autor | Pedro Miguel Camargo da Cunha Rêgo |
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Resumo Expandido | Esta proposta advém de nosso interesse em tomar os filmes como objeto de investigação para a Sociologia. Nossa intenção é a de contribuir com uma discussão acerca das elaborações teórico-metodológicas desenvolvidas por dois pesquisadores que, embora perseguindo objetivos bastante distintos entre si, privilegiaram a comparação das imagens dos filmes em investigações acerca da sociedade – quais sejam, Siegfried Kracauer e Pierre Sorlin. Nesses dois casos, suas elaborações encontram-se atravessadas por profícuos diálogos com a Filosofia, a Política, a Psicologia, a Semiologia, a História, a Arquitetura etc. Selecionaremos para esta discussão, contudo, os escritos desses autores que se debruçam sobre a questão do cinema em sua relação com a sociedade. Ao contrário de abordagens que priorizam um exame exterior às obras (limitando-se, por exemplo, à produção, circulação e distribuição das mesmas), ou aquelas que, em contrapartida, se detêm na análise e discussão de aspectos formais e interiores de uma determinada obra, tanto para Sorlin quanto para Kracauer é o visionamento de filmes e sua comparação (isto é, seu agrupamento, seu tensionamento, sua combinação e confronto) que “faz ver” determinados aspectos de outro modo invisíveis das sociedades das quais são produto e para as quais se dirigem em primeiro lugar. Para ambos autores, portanto, a comparação não é apenas um passo metodológico, mas é, ela mesma, o que possibilita colocar determinados problemas e questões acerca do social. De Kracauer, apresentaremos um panorama de suas formulações sobre o cinema considerando os seguintes livros: De Caligari a Hitler: uma história psicológica do cinema alemão (1947), Theory of film. The redemption of physical reality (1960), bem como os ensaios presentes na coletânea O ornamento da massa (1963). Com um breve passeio pelos textos do autor, procuraremos destacar uma asserção neles onipresente: a de que o cinema é o espelho da sociedade com potencial revelatório das condições materiais das quais essa sociedade é produto e, ao mesmo tempo, é produtora. Nosso intuito é o de iluminar a tomada de posição materialista desse autor e o pressuposto epistemológico que a ela subjaz – bem como as consequências teórico-metodológicas que implicam a observação de uma série de filmes. De Pierre Sorlin, por sua vez, trataremos mais detidamente de seu livro Sociologie du cinéma (1977) – onde os filmes não são tidos como “reflexo”, nem como portadores de “revelações” acerca do social (como em Kracauer), mas são eles próprios “proposições específicas” acerca do que é a sociedade. Sob esse prisma, os filmes seriam constructos que disputam valorativamente tanto o sentido quanto a própria direção da existência humana em coletividade. É o seu agrupamento e comparação que fariam aparecer certos problemas e questões comuns como relevantes a uma sociedade num dado momento de sua história – bem como explicitariam as várias tomadas de posição individuais de cada um dos filmes em torno desses problemas. Buscaremos apontar, por fim, algumas conexões desse estudo seminal de Sorlin com suas incursões posteriores: European cinemas, european societies 1939-1990 (1991) e Italian National Cinema: 1896-1996 (1996). |
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Bibliografia | KRACAUER, Siegfried. Theory of film. Redemption of physical reality (1960). London: Oxford University Press, 1974. |