ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O Cine UFPel e a promoção da cinefilia a partir do cinema brasileiro |
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Autor | MAURICIO VASSALI |
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Resumo Expandido | De maneira paralela ao circuito comercial, as salas de cinema universitárias costumam oferecer uma programação diferenciada no que tange os formatos narrativos e de produção de filmes exibidos. Além disso, operam de maneira semelhante aos cineclubes, não apenas por, em geral, não visarem lucro, mas principalmente pelas funções que desempenham, incluindo a compreensão do cinema como valor artístico, a formação pelo compartilhamento de experiências, a interação com outras instâncias da comunidade e a promoção de um modelo de consumo audiovisual alternativo (MACEDO, 2010). Dado que o número de cursos de cinema cresceu no país nos últimos anos, totalizando 87 cursos de graduação em instituições públicas e privadas (RIBEIRO et al, 2016), cresceu também o número de salas universitárias e a necessidade de estudos que contemplem tal modalidade de difusão audiovisual. É neste contexto que se insere o Cine UFPel, sala de cinema que integra a Universidade Federal de Pelotas e é objeto de estudo deste trabalho. Operado integralmente por alunos bolsistas e professores dos cursos de Cinema da universidade, a sala contempla o cinema brasileiro em sua programação, sempre gratuita e aberta para a comunidade. Além de estreias semanais escolhidas pela equipe da sala, acontecem também no Cine UFPel a atividade de cineclubes, mostras e exibições em parceria com outras entidades como a ABRACCINE e o SESC. As obras são exibidas sob autorização de distribuidoras e realizadores, que aprovam as sessões gratuitas em datas e horários definidos previamente. Com o intuito de investigar seu potencial de promoção da cinefilia a partir da curadoria, este trabalho levantou apenas longas-metragens brasileiros exibidos em estreias, espaço onde o Cine opera com total independência, desde a fundação da sala em 2015 até o mês de agosto de 2018. Do total de 91 trabalhos, 27.5% foram dirigidos por mulheres, número que supera os 20.4% relativo ao total de produções guiadas por diretoras no país (ANCINE, 2016). Além disso, apenas oito longas tiveram exibição no circuito comercial de Pelotas. Ou seja, mais de 90% dos filmes exibidos eram inéditos na cidade. Ao separar as obras por local, 12 estados foram representados (AM, BA, CE, DF, MA, MG, PB, PR, PE, RJ, RS e SP). Tais dados vão ao encontro das diretrizes curatoriais da sala, principalmente aquela que diz respeito a descentralização geográfica de produções. Além desta, outras três pistas criativas para curadoria em salas universitárias são sugeridas por Langie (2017), incluindo inovação narrativa, compartilhamento da noção do dispositivo e representações que driblam clichês e apresentam outras realidades que não aquelas expostas pelo discurso hegemônico. Estas três últimas categorias curatoriais foram analisadas sob a ótica do autor, um dos responsáveis pela curadoria da sala durante o referido período. No processo curatorial, discussões acerca do juízo de valor de obras foram levantadas e sugestões da comunidade foram acatadas conforme disponibilidade de distribuidoras parceiras. Na organização da programação, o contato com outras entidades da comunidade se deu a partir de debates e bate-papos pós-sessão. A história do cinema foi revisitada em estreias que resgatavam a cinematografia brasileira e conversas foram travadas a partir de críticas publicadas acerca de tais trabalhos. A atividade tocou o cerne da ideia de cinefilia proposta por Baecque (2016). Para ele, mais que apenas assistir aos filmes, discutir sobre eles é fator essencial. A reflexão, que inclui a crítica, a história do cinema e a própria recepção dos cinéfilos, é sua marca específica. Sem excluir a experiência individual, a manifestação da cinefilia se dá em ações coletivas através de redes organizadas de onde partem debates intercontextuais que aspiram à alteridade. Enquanto sala universitária, é clara a necessidade e força do Cine UFPel em atingir cinéfilos em potencial, simpáticos à arte e por vezes carentes de certa luz em suas escolhas. |
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Bibliografia | ANCINE. Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro 2016. Disponível em: goo.gl/f3ynTg. Acesso em 19 mai 2018. |