ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Personas Performáticas: Estudos a partir de Gabriel Mascaro. |
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Autor | Katrin Riato |
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Resumo Expandido | A partir da observação do contexto atual da produção do cinema pernambucano, nota-se a interação estética e conceitual deste cinema com elementos da arte contemporânea, como a performance. Esta produção está ligada a um contexto identificado pela expansão dos conceitos do que se compreende por cinema, transbordando os traços formais e estéticos do cinema tradicional, apontando para um cinema fluido. É neste contexto que se propõe a análise do filme Avenida Brasília Formosa de Gabriel Mascaro, como forma de localizar a obra dentro de um regime performativo da imagem, que convoca o corpo e as afetividades do participante e do público, desestruturando o regime discursivo e de imersão no cinema. Este filme incorpora diversos modos de se trabalhar a linguagem audiovisual, ampliando-a e multiplicando-a para o corpo do espectador, dilatando e ultrapassando as margens do cinema, do vídeo, da performance, das imagens de computador. Dessa forma, é feita aqui uma análise associativa com a performance, com a arte processual e da produção em rede e colaborativa. Esse cenário aponta para uma produção de filmes híbridos, que evocam uma experiência estética específica. Um dos procedimentos performáticos do filme pode ser visto através da utilização de não atores, que se encontram num movimento performático diante da câmera. Dessa forma, nesse recorte da pesquisa, há a intenção de aproximações do conceito de Personas Performáticas (GOLDENSTEIN, 2012, p.83) com o filme de Mascaro. Avenida Brasília Formosa é uma obra cinematográfica produzida pelo diretor pernambucano Gabriel Mascaro com lançamento em 2010. O longa-metragem aborda questões acerca do bairro de Brasília Teimosa situado na zona sul de Recife. O jogo de construção do filme se baseia numa invenção compartilhada a partir da construção de conexões entre moradores de Brasília Teimosa, utilizando a avenida como ponto de encontro. O filme se caracteriza como resultado de uma hibridização entre ficção e documentário, aqui também visto como procedimento performático dentro do cinema. Essa hibridização ocorre, em um de seus aspectos, pela performance dos moradores de Brasília Formosa diante da câmera. Esses "personagens reais" aqui são vistos também como atores-autores, pois estão em grande parte construindo suas imagens, sem estabelecimento de roteiro prévio. São quatro os personagens do filme. Cauã (um pequeno morador da comunidade), Fábio (garçom, cinegrafista e bailarino evangélico), Pirambu (o pescador removido) e Débora (manicure e candidata ao BBB). Esses quatro personagens não tem nada em comum, somente o local em que vivem suas vidas, na comunidade de Brasília Teimosa. A partir disso, o diretor tece uma rede de encontros, e com a presença da câmera, ocorrem processos de comunicação e interatividade produzida entre corpo e câmera de vídeo, criando dentro do cotidiano dos personagens, acontecimentos. Nesse sentido, o filme de Mascaro, ao ser um filme que atua nas bordas, coloca luz sobre o que seria o conceito de “personagem” cinematográfico. Assim como Ana Goldenstein cita em seu livro "Persona Performática": "Essa preocupação levou também cineastas a procuras semelhantes, em busca de qualidades cênicas, do trabalho com não atores, de presenças diferentes daquelas da representação de atores profissionais, influindo diretamente na linguagem do filme" (GOLDENSTEIN, 2012, p.58). Para Goldenstein, a persona amplia as fronteiras do artista, da pessoa que está em cena, oferecendo assim, distintas possibilidades de construção e apresentação do "eu". Ainda sobre este conceito, o filme elucida, não somente a construção dessas personas juntamente com a câmera e com a rede de encontros, mas também revela a insuficiência que o cinema tradicional apresenta de captá-las inteiramente em sua complexidade, e de tipificá-los para um roteiro. Dessa maneira, Gabriel Mascaro Avenida Brasília Formosa evoca outras experiências estéticas com as imagens de seu filme. |
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Bibliografia | MACIEL, Kátia (Org.). Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009. |