ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | A atuação de Jean-Pierre Léaud em "A morte de Luís XIV" |
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Autor | Leonardo Couto da Silva |
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Resumo Expandido | No Festival de Cannes de 2016, o longa-metragem "A morte de Luís XIV", dirigido pelo catalão Albert Serra, teve a sua estreia. Estrelado por Jean-Pierre Léaud, o filme apresenta os últimos dias de vida do grande monarca do Absolutismo Francês em seus aposentos reais no Palácio de Versailles. O rei, com a perna tomada pela gangrena, definha, quase imóvel, até a morte, enquanto os médicos que o assistem buscam medidas para lhe alongar a vida. Serra filma com enquadramentos fechados, que não fornecem uma total ideia da configuração espacial. Centra-se de forma geral em primeiros planos dos rostos dos personagens, que lembram os "screen tests" de Andy Warhol. A temporalidade dos planos é bastante estendida em relação à ação dramática que ocorre. Recorrentemente, há planos do Rei que duram cinco minutos ou mais, nos quais vê-se apenas o seu corpo deitado em descanso ou em agonia. Dessa maneira, o filme contrasta com o de Rossellini, "O Absolutismo: A Ascensão de Luís XIV" (1966), em que uma situação dada - a morte de um dos cardeais mais importantes da França - faz com que o jovem príncipe tenha que realizar determinadas ações, fazendo-o ascender ao poder e consolidar a monarquia. A iluminação contrastada e sombreada, assim como a duração alongada acabam por deformar o rosto de Léaud. O ator-símbolo da Nouvelle Vague nos anos 60, agora com 74 anos, tem a sua velhice explicitada: podemos ver todas as suas rugas do rosto e das mãos, que parecem imitar as dobras barrocas das roupas e objetos decorativos. A juventude da qual Léaud era representante no cinema se esvaiu. Ao encarnar uma personagem cujo esquema sensório-motor (DELEUZE, 2007) se deteriora, não se fazem mais presentes determinadas marcas de sua atuação, como a expressividade dos gestos das mãos, o tom cômico e irônico de sua voz, ou a explosão repentina. A fragilidade do corpo mostra a efemeridade da própria existência - um motivo especialmente barroco (BUCI-GLUCKSMANN, 2003) - até mesmo a do grande ícone do Absolutismo. Neste trabalho será analisada a atuação de Léaud no longa de Serra, refletindo sobre como seu corpo - que traz consigo uma determinada história do cinema - se comporta diante das proposições do diretor, quais gestos podem marcar uma autoria do ator. Para isso, será tomado como base comparativa um panorama de outros filmes em que o ator francês participou. São exemplos desses a série do personagem romântico e cômico Antoine Doinel, dirigida por François Truffaut, os filmes políticos de Jean-Luc Godard, em que Léaud interpreta mais de uma vez um militante verborrágico, e trabalhos mais recentes, como "Que horas são aí?" (2001) de Tsai Ming-Liang, nos quais o artista parece ser um símbolo da cinefilia e, portanto, pertencente a um passado nostálgico (BAECQUE, 2010). A nossa questão é fruto das colocações de Serra em seu pequeno artigo "The Dramaturgy of Presence" (2014), onde o cineasta defende a concepção do ator como um performer, em suas palavras, “um gerador de gestos irrepetíveis e fatais” (p.92). A dramaturgia da presença é uma metodologia de trabalho que coloca o ator como figura central, partindo das inspirações deste para a realização do filme. Dessa forma, Serra afirma que a técnica deva estar subordinada ao ator, e não o contrário. É o ator quem fará “a simbiose com a decoração, o ritmo, a cor” (p.93), ou seja, o espaço deve ser construído de forma a melhor lhe servir. "A morte de Luís XIV" foi filmado com três câmeras simultâneas, e boa parte das decisões sobre a fotografia delegadas ao cinegrafista. Serra admite não utilizar "video assist" em seus filmes, para, assim, estar sempre próximo do ator, atento às novidades que este traz para a cena planejada. |
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Bibliografia | BAECQUE, Antoine de. Cinefilia. São Paulo: Cosac Naify, 2010. |