ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Cinema noir italiano: a (in)dependência de uma femme fatale clássica |
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Autor | Alexandre Rossato Augusti |
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Resumo Expandido | A comunicação parte de algumas das conclusões decorrentes de trabalhos produzidos durante o pós-doutorado do autor desta proposta, e faz parte do projeto de pesquisa A perspectiva hedonista no cinema noir e neonoir italianos, desenvolvido pelo autor e que conta com a colaboração de graduandos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Este trabalho foi realizado pelo autor e a graduanda Vitória Farinha de Oliveira. Para a presente comunicação, ressalta-se a perspectiva hedonista dos filmes noir italianos, sustentada mais particularmente pela atuação da femme fatale, que pode apresentar algumas características específicas no contexto italiano. No caso do filme analisado nesta proposta – O Bandido (Il Bandito - Alberto Lattuada, 1946) – tem-se a femme fatale Lídia (interpretada por Anna Magnani) como a chefe de uma gangue, desafiando em diversos momentos a supremacia masculina. Como orientação metodológica, traz-se a proposta analítica de Diane Rose, através do livro Análise de imagens em movimento (2002); e a Análise Fílmica, utilizando-se os autores Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété, com a obra Ensaio sobre a análise fílmica (1994). Ao se tomar a figura da femme fatale para amparar prioritariamente a abordagem hedonista dos filmes italianos, remete-se às alusões à beleza e ao sexo, como elementos que reportam ao hedonismo. Tradicionalmente, no cinema noir, o homem valoriza o hedonismo e a femme fatale utiliza essa tendência em prol de seus objetivos de ascensão social. Através de sua beleza e inteligência, essa mulher provoca o prazer masculino ou apenas incentiva a busca de sua realização. A análise do filme O Bandido transita pela preocupação em compreender a incomum personagem Lídia. Ao contrário do que se esperava do film noir em seu período clássico, que traria uma personagem em geral limitada materialmente e que busca ascensão, ele apresenta uma femme fatale mais distante de seus padrões, pois se descobre Lídia como líder, já rica e chefe de uma gangue desde o início da narrativa. Ao contrário do esperado, ela encanta a personagem Ernesto (Amedeo Nazzari) e o ajuda, enquanto normalmente é o protagonista masculino quem ofereceria ascensão social à femme fatale, que o seduziria com esse intento. Durante a narrativa, percebem-se estratégias de sedução da femme fatale, por exemplo, na cena em que Lídia coloca uma música e se acentua o envolvimento do casal. Quando ela acende um cigarro, conclui-se a posição de poder sobre Ernesto ao ser evocado o interesse sexual dele (tendo-se em vista o caráter fálico do cigarro), o que se concretiza quando ela o interroga sobre a sua vida, sem que revele algo sobre a dela. Segundos depois, ele responde aos interesses da femme fatale quando a beija. Nessa sequência, observamos o primeiro encontro do futuro casal. Percebem-se as intenções da Lídia com o homem, aparentemente mais novo e com vasta experiência em matar, como ele mesmo afirma. Adiante, o protagonista entra para a gangue da mulher e desenvolve-se com destaque nos crimes. Apesar disso, a femme fatale permanece no controle e liderança, não admitindo desrespeitos. A escolha do filme foi realizada também devido às particularidades de Lídia, propagando uma independência do feminino em um período em que o masculino se destaca como superior. Percebe-se a proeminência da femme fatale durante toda a narrativa, em que a maioria das suas falas, quando direcionadas a homens, são de ordens e até xingamentos, contrariando o esperado para as personagens femininas nas décadas de 40 e 50. Observa-se o cinema noir como lugar de contradições em relação ao feminino. Verifica-se, por exemplo, que apesar de ajudar no crescimento das atrizes no cinema mundial, em um período em que as mulheres ainda eram em sua maioria coadjuvantes de reduzida importância nessa área, exibindo a femme fatale como peça importante do gênero, por outro lado o noir incentiva o machismo, ao retratar a mulher de maneira gananciosa e ambiciosa. |
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Bibliografia | CARVALHO, D. S. L. P. Fatal, cativa e independente: a mulher no film noir - Coimbra, 2011. |