ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O Pós-Dramático no Novíssimo Cinema Brasileiro |
|
Autor | felipe maciel xavier diniz |
|
Resumo Expandido | A discussão dos aspectos que formatam uma dinâmica da desdramatização no escopo da realização cinematográfica contemporânea nos obriga a retomar aquilo que se compreende como aspecto estruturante das concepções dramáticas. Nosso intuito, portanto, é estabelecer contrapontos entre as operações dramatúrgicas inseridas nas encenações do Novíssimo Cinema Brasileiro e a tradição do drama moderno, cujas bases são fornecidas pelo teatro. Acreditamos que alguns filmes produzidos atualmente no Brasil nos lançam teorias a respeito desta problemática, e nos fazem repensar aspectos que tocam as formas de determinadas mise-en-scènes. A totalidade, a ilusão e a reprodução do mundo circunscrevem a base do modelo do teatro dramático. A partir dessa premissa, a ação e a imitação tornam-se também pilares de um modelo que foi confrontado no decorrer dos séculos da idade moderna. Foi no acender das luzes do século XX que a teatralidade, enquanto expressão artística, começou a ser trabalhada independentemente do texto dramático. É justamente essa quebra com a ilusão da realidade que se configura como um passo importante para a chamada era do pós-dramático. Trata-se de um contexto contemporâneo, em que o teatro adota uma tática de recusa, através da economia de elementos cênicos e da aposta na potência da duração, dos espaços vazios, do silêncio e, sobretudo, da expressão minimalista de gestos e movimentos. É então que uma nova concepção do drama se apresenta apoiado na utopia da pura presença (GUINSBURG; FERNANDES, 2009), uma presença que emergiria em detrimento da ideia de representação da realidade e que daria origem a um teatro não referencial. É a partir desse contexto que pretendemos situar nossa reflexão em relação ao cinema. Ao olhar para a história do cinema e suas estéticas, enxergamos pistas para a compreensão do que estamos chamando de desdramatização, que podemos pensar como um movimento de inversão do drama ou, pelo menos, de afrouxamento de seus esquemas. É na concepção desse contexto pós-dramático que operamos sob a ideia de duração como figura do excesso. Essa lógica funciona como uma cama para o confronto com o mundo das coisas, das materialidades. A dilatação temporal se mostra expressivamente, movimento responsável pela diluição de uma interpretação que tem dificuldade de revelar alguma coisa além daquilo que já se está vendo. A produção desses “modelos desdramatizados” se afasta da transparência do realismo clássico, que vê na representação realista do cinema uma janela para o mundo. Por esse prisma, o texto cinematográfico passa a ser confrontado pelos silêncios, pelo vazio, pela monotonia de diálogos, acionando um funcionamento mais expressivo que informativo onde as oscilações entre a figuração e a abstração são uma constante. A imagem que vemos despontar em alguns filmes do Novíssimo Cinema Brasileiro (já experimentadas em um contexto do Cinema Moderno) responde a uma dinâmica mais de inscrição do que de revelação de realidades, o que desloca o caráter de sua mise-en-scène da busca por um realismo apriorístico para a afirmação de uma realidade da própria imagem cinematográfica. Os efeitos de realidade (concepção barthesiana) viram efeitos de presença. O movimento que busca uma realidade essencial (Bazin) através do impulso do registro é desamparado por uma “energia subversiva de produção minimalista/hiper-realista” (MARGULIES, 2015, p. 76) que potencializa a realidade própria da linguagem. A ênfase no cotidiano banal por si só não designa a desdramatização. Tal operação deve ser acompanhada de uma mise-en-scène que transforme o banal em significante: a vida cotidiana feita objeto formalizado como um excedente de realidade. É nesse ponto que percebemos um rompimento com a tradição do drama em direção aos modelos desdramatizantes. |
|
Bibliografia | BAZIN, André. O Realismo Impossível. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. |