ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Um traçado sobre personagens periféricos em movimento e interrupção. |
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Autor | juliana serfaty |
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Resumo Expandido | A pesquisadora e geógrafa, Doreen Massey, propõem pensar como a circulação de alguns grupos sociais enfraquecem o fluxo de outros grupos subalternizados e produzem: "uma mobilidade diferencial que pode enfraquecer a influência dos enfraquecidos(MASSEY, 2016, p. 7). Para Massey, trata-se de perceber como sujeitos periféricos tem relação distintas com a mobilidade e se perguntar: "se nossa relativa mobilidade poder aumentar o aprisionamento espacial de outros grupos sociais"(MASSEY, 2016, p.7) A pesquisadora cunhou o conceito de "geometria do poder" para definir esta mobilidade seletiva que, segundo a autora, acaba dando sentido a noção espaço no mundo contemporâneo. Assim como Massey, outro autor que vem somar a esta pesquisa é Achille Mbembe, que discorre sobre como os dispositivos de poder operam desde do projeto colonial e moderno, controlando a circulação desses grupos populacionais a fim de "fixar o mais precisamente possível os limites em que podem circular, determinar os espaços que podem ocupar, em suma, assegurar que a circulação se faça num sentido que afaste quaisquer ameaças e garanta a segurança geral"(Mbembe, 2013, p.73). Tais contribuições teóricas a cerca dos modos de circulação das populações periféricas propõem refletir como o cinema tem tratado de tornar visível os caminhos, os trajetos, os trânsitos dos personagens periféricos, levando-se em conta os bloqueios e os fluxos destes moradores. Desta forma, este trabalho procura traçar um conjunto de cenas que dão a ver modos distintos de figurar o movimento e a interrupção destes corpos e grupos sociais periféricos em agenciamento com seus territórios e com a cidade por onde percorrem. A princípio, nos concentraremos na análise de trechos onde aparecem os personagens em circulação, presente no curta Deus(2017) de Vinicius Silva da Zona Oeste de São Paulo, onde a personagem periférica aparece quatro vezes no ônibus realizando o trajeto da casa ao trabalho. Além deste curta, o filme de Jéferson, morador da favela da maré, chamado (In)cosciência Negra(2018), realizado as véspera da comemoração deste dia que reúne em ensaio visual imagens filmadas de dentro de um ônibus sobre o ponto de vista do passageiro. Já nos filmes de ficção científica serão postas em destaque cenas onde o estado opera como força repressora inibindo a passagem dos sujeitos periféricos. No filme Branco sai, preto fica(2014) de Adirley Queirós pode se ver tal condição logo no início do filme na sequência das fotos sobre a performance do personagem narrando o baile do quarteirão na Ceilândia ocorrido em 1986, onde ele também esteve presente. Vemos nestas fotos do baile, a dança, o corpo vibrando, ouve-se a música narrada no rádio, mas quando a polícia aparece na narração este movimento é interrompido. Neste caso, a ficção científica opera criando imagens que atualizam dispositivos de controle, assim ocorre também na sequência quando se ouve no rádio do carro a exigência de passaporte para entrar na área nobre. Cena semelhante a esta também aparece em Trêmor Iê(2019), longa lançado este ano na 22 Mostra Tiradentes de Elena Meirelles e Livia Paiva. No início do filme vemos longamente em plano sequência um mulher sobre uma moto até este movimento ser interrompido por agente do estado exigindo a ela as documentações legais para circulação. Imagens como estas são cada vez mais recorrentes no cinema contemporâneo, evocam a noção de geometria do poder de Massey, mas também procuram reinventar os lugares já estabelecidos, subverter as imagens e modelos que insistem em fixá-los. Este trabalho, portanto, irá pesquisar como alguns filmes do cinema contemporâneo dão a ver esta relação entre movimento e interrupção, mas também propõem novas ferramentas estéticas para recompor o fluxo e não estagnar a circulação dos sujeitos periféricos. |
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Bibliografia | MBEMBE, Achille. A crítica da razão negra. Editora N-1. São Paulo. Ano: 2013 |