ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Jaulas pequenas, monstros gigantes: modos do horror cinematográfico |
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Autor | Lucas Procópio Caetano |
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Resumo Expandido | Apesar da facilidade com que a crítica e o público em geral reconhecem um filme de horror, delimitar exatamente sua definição enquanto gênero é tarefa que se tornou gradativamente árdua. Além de sua natureza mutável, trata-se de um gênero que oferece um “verdadeiro zoológico de temas e visuais bizarros e tentadores que imploram por um direcionamento são e sensível” (RUSSELL, 1998, p. 234). Seguindo a lógica desta metáfora, se o horror é como um animal arisco, os esforços de estudiosos para defini-lo de forma clara seriam jaulas frágeis, incapazes de contê-lo. Logo, torna-se necessário buscar novas maneiras para que o horror e as possibilidades de representação que oferece sejam melhor compreendidas. Fazendo um empréstimo da teoria de Peter Brooks (1976) acerca do melodrama na literatura e no teatro, o que será proposto neste trabalho é analisar o horror como um modo imaginário. Linda Williams (1998) afirma que o modo e suas operações extrapolam os limites de gênero, podendo ser empregados em diversas narrativas além daquelas centradas no universo de personagens femininas, comumente associadas ao melodrama. Para tanto, o modo seria altamente tributário do imaginário do público, responsável por seu reconhecimento. E apesar de tal reconhecimento já ter sido explorado por outros autores, como por exemplo na análise do eixo pragmático proposta por Rick Altman (2000), o uso modal de dados aspectos de um gênero em uma narrativa não a filiaria a este gênero, tampouco configuraria uma hibridização. Partindo deste princípio, proponho um modelo semelhante, voltado para as experiências de medo e estranhamento a partir dos recursos cinematográficos. Lovecraft (2008) inicia O Horror Sobrenatural na Literatura afirmando que essa antiga e poderosa emoção humana está intimamente ligada ao medo do desconhecido – e mesmo que se argumente que o medo não é o único componente do que compreendemos como horror, decerto é o elemento mais imediatamente associado às suas narrativas. Ao confrontar a imprevisibilidade do mundo que nos circunda e do qual fazemos parte, um mundo no qual a ameaça da extinção está sempre à espreita, confrontaríamos também nossa habilidade de compreender este universo, e seria justamente na falha em compreendê-lo que o gênero horror teria se constituído. Mais especificamente no cinema, por mais que dado público anseie por surpresas e reviravoltas que as narrativas possam (ou não) apresentar, ainda se faz necessário que o gênero e suas marcas funcionem como um mapa, em um processo no qual suas expectativas até podem ser frustradas, mas apenas até certo ponto de reconhecimento, visto que gêneros consistem em mais do que apenas os filmes, mas igualmente “de sistemas específicos de expectativa e hipóteses que os espectadores trazem consigo ao cinema e que interagem com os próprios filmes durante o processo de assisti-los” (NEALE, 2003, p.161). São, enfim, sistemas que proporcionam aos espectadores meios de reconhecimento e compreensão, além de oferecerem também bases para novas antecipações. Desta maneira, o uso modal do horror está intimamente ligado com uma espécie de rompimento parcial deste pacto entre espectador e gênero. É, enfim, um conjunto de rastros empregados através das mais variadas ferramentas narrativas que reconfigura o pacto em novos termos, ainda que o horror jamais seja totalmente descaracterizado. A aplicação e aprofundamento desta discussão se dará a partir da análise dos longas-metragens "A Fita Branca" (Das Weisse Band, Alemanha, 2010), "Aquarius" (Brasil, 2016) e "O Sacrifício do Cervo Sagrado" (The Killing of a Sacred Deer, Inglaterra, 2017). São filmes nos quais, apesar de um aparente distanciamento com o gênero horror, é possível observar outras tantas aproximações que se dão pelo viés do modo, oferecendo, assim, um terreno inicial fértil para que este estudo avance. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick. Los géneros cinematograficos. Barcelona: Paidós, 2000. |