ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Dispositivos Sonoros: o design de som e a arte sonora no filme A Balsa |
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Autor | Filipe Barros Beltrão |
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Resumo Expandido | O design de som no cinema é um campo vasto para criação artística e também uma área para frequentes experimentações e simbioses com outros campos sonoros existentes. Neste artigo trataremos da relação entre o design de som e a arte sonora. O design de som no cinema se estabelece conceitualmente a partir dos anos 70 e da maturação dos processos tecnológicos e artísticos que se consolidam desde então (MURCH, 2004). Nesta mesma década, a arte sonora se consolida como um novo campo artístico. “Na fronteira entre as artes visuais e a música, assistimos à emergência de uma forma de arte na qual o som é utilizado de modo peculiar, num processo que se aproxima mais de um contexto expandido de escultura e criação plástica do que dos modos tradicionais de criação musical. Esse repertório, caracterizado pelo intercâmbio entre as artes, mesclando música, artes plásticas e arquitetura, passou a ser designado como arte sonora (sound art)” (CAPESATO e IAZZETTA, 2016, p. 1). Dentro dessa terminologia algumas obras surgem apontando gêneros estabelecidos tais como: paisagem sonora, escultura sonora e instalação sonora (LICHT, 2009). Neste artigo, buscamos interconectar a arte sonora ao design de som para filmes, a fim de mostrar possíveis processos de conexão entre as duas áreas e como lógicas comuns podem nortear os processos criativos. Como estudo de caso iremos estabelecer uma relação entre o trabalho do artista sonoro americano Bill Fontana e o sound designer e artista sonoro pernambucano Thelmo Cristovam. Essa aproximação entre os dois campos emerge a partir da análise do filme A Balsa (Marcelo Pedroso, 2009), no qual Cristovam desenvolve o trabalho de captação e design de som. O média-metragem em questão é um documentário que aborda o trajeto de balsa entre as cidades de Japaratinga e Porto de Pedras, no litoral norte de Alagoas. O deslocamento entre os dois pontos está em vias de transformação a partir da construção de uma ponte e o filme documenta esse processo de transição histórica e de obsolescência da Balsa como meio de transporte. No som deste filme, toda bagagem de Cristovam como artista sonoro vem à tona pensando o processo de captação e design de som em relação à narrativa. O som constitui um importante contraponto ao panorama visual apresentado, no qual as cenas tem uma temporalidade marcada, com planos lentos, contemplativos, pensando a balsa como um dispositivo fílmico (MIGLIORIN, 2005) onde o panorama visual é captado a partir dela. A mesma lógica opera no âmbito sonoro, no entanto dentro desse lugar o som gerado pela balsa é algo vigoroso, ruidoso, pulsante e vibrátil. Dentro desse direcionamento, Thelmo Cristovam realiza um sound design que concebe a balsa como dispositivo sonoro, produtor de sons, que inclusive perpassam o meio aquático e o terrestre. Para capturar esses sons e dar materialidade a esse direcionamento, Cristovam utilizou vários tipos de microfone que traduzem a versatilidade dos sons produzidos pela balsa. Ele usou microfones dinâmicos e condensadores shotgun, mais tradicionais no som direto, microfones de contato que captam a vibração do corpo material da balsa e microfones subaquáticos que registravam os sons produzidos no meio aquático e essa dimensão do dispositivo da balsa. O resultado estético do design de som se assemelha a uma escultura sonora onde realmente temos uma sensação de imersão tridimensional em diversas nuances da balsa e na sua vasta sensibilidade sonora. O som do filme A Balsa nos permite criar um paralelo com a escultura sonora Harmonic Bridge (Bill Fontana, 2006) onde acelerômetros captam o som da ponte Millennium Foot Bridge e reproduzem ao vivo os sons no hall central do museu Tate Modern, localizado a frente da ponte. Nesta escultura podemos acessar simultaneamente os sons escondidos dos passos, ventos e vibrações que emanam da ponte. Os dois trabalhos analisados apontam para uma simbiose e compartilhamentos de processos criativos entre a arte sonora e o design de som no cinema. |
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Bibliografia | CAMPESATO, Lilian e IAZZETTA, Fernando. Som, espaço e tempo na arte sonora. In: XVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM), Brasília, 2006. |