ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Cineastas mulheres seriam impermeáveis à grandeza? |
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Autor | Karla Holanda |
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Resumo Expandido | Quando Linda Nochlin fez a pergunta em seu célebre ensaio de 1971, “Why have there been no great female artists?”, ela sabia que poderia também estar insinuada a resposta: ora, “não há grandes artistas mulheres porque elas são incapazes de grandeza”. Enquanto podemos nomear facilmente alguns cineastas que se consagraram como “grandes” na história inscrita do nosso cinema, teremos dificuldade em encontrar equivalências femininas em “grandeza”. Entre as hipóteses, a primeira: as mulheres são mesmo impermeáveis à grandeza (assim como afrodescendentes e indígenas)? Transferindo a questão para as cineastas brasileiras, claro que vale contestar a afirmação pelo esforço de se desvelar histórias desconhecidas de mulheres e seus filmes ignorados, ao mesmo tempo em que se contribui para o maior conhecimento da história do cinema em geral. No entanto, como diz Nochlin em relação à arte, “essas iniciativas nada fazem para questionar os pressupostos que estão por trás da pergunta”. O que propomos aqui é desenvolver as discussões da historiadora da arte estadunidense, mas buscando caminho próprio, ao considerar o cinema e o contexto brasileiro. Fazendo paralelo com o mundo das artes, a ideia desta comunicação é investigar o sentido que se dá ao “grande cineasta” e como ele é construído, considerando, inclusive, o papel das instituições nesse processo. Assim como para escrever ficção é necessário ter dinheiro e um teto todo seu, como defende Virgínia Woolf, para filmar não seria diferente, sobretudo no período que viu nascer os grandes cineastas brasileiros, por volta dos anos 1970. As mulheres de classe média e alta eram preparadas para casar, ter filhos e cuidar dos assuntos domésticos, portanto, não tinham ambiente propício à criação, menos ainda se fosse fora de casa, e como não exerciam atividade remunerada, em geral, eram dependentes financeiramente. Raras delas recebiam apoio familiar ao tentar escapar da fatalidade; outras arcavam sozinhas com o ônus da ousadia. Não à toa, dois casos emblemáticos na história de nosso cinema: para poder dirigir, Carmen Santos criou seu próprio estúdio e Cléo de Verberena bancou sua própria produção (ARAUJO, 2017). Parece haver quantidade considerável de mulheres cineastas que interromperam suas carreiras logo no início por não conseguirem levar a dupla jornada. Central aqui será discutir os parâmetros que levam à noção de grandeza, o que determina esses parâmetros e a importância de deslocá-los. Se a partir dos anos 1970 algumas mulheres cineastas podem ser vistas como grandes já não tem importância. Ser “grande” implica uma escala comparativa, é colocar outros em posição menor. Ser grande, portanto, precisa cair no mau gosto da ideia tosca de ser melhor que outros. |
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Bibliografia | ARAUJO, Luciana Corrêa de. Cléo de Verberena e o trabalho da mulher no cinema silencioso brasileiro. IN: HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs). Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro. Campinas, SP, Papirus, 2017. p.15-29. |