ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Devir ecológico: corporeidades não-humanas no cinema contemporâneo |
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Autor | Mariana Arruda Carneiro da Cunha |
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Resumo Expandido | Imagens de florestas e bosques estão presentes no cinema, notadamente como cenários de filmes de certos gêneros, como é o caso dos filmes de terror. No entanto, uma produção recente de filmes de realizadores contemporâneos põe em evidência aspectos que vão além de uma interpretação simbólica desses lugares e paisagens. Esta comunicação examina os desdobramentos de imagens da natureza em filmes contemporâneos que buscam um forte engajamento com o não-humano e o meio ambiente. Trata-se de entender o papel estético e ético da espacialidade em filmes com tendência a uma abordagem não-antropocêntrica do cinema, a partir de uma noção de natureza como uma rede de seres orgânicos e inorgânicos sensíveis, cuja agência se espalha para além das formas de vida humana. Nesse sentido, a partir de uma perspectiva ecológica e de uma discussão sobre a materialidade do cinema, a pesquisa analisa os filmes “Jin” (2013) e “Mulheres que cantam” (2014) do realizador turco Reha Erdem, buscando, contudo, paralelos com a cinematografia de realizadores como Apichatpong Weerasethakul e Naomi Kawase, cujas obras desestabilizam perspectivas dominantes sobre a relação entre humanos e meio ambiente, ressaltando uma forma não-antropocêntrica de pensar o mundo. Ambos “Jîn” (2013) e “Mulheres que cantam” (2014) enfatizam corporeidades não-humanas do ponto de vista narrativo e estético. “Jîn” apresenta uma parábola ambiental a partir do conflito curdo-turco como reflexo da ruína da humanidade diante da natureza. A protagonista, Jîn, é uma guerrilheira curda que deserta a milícia e foge pela paisagem rural da Turquia, atravessando exuberantes florestas e paisagens montanhosas. Já “Mulheres que cantam” retrata o dia a dia de um grupo de moradores de uma ilha que, após receber um aviso para evacuar a ilha por conta da possibilidade de um terremoto, se recusam a deixá-la. Os que ficam passam a viver em um clima apocalíptico, em que, por exemplo, cavalos contraem uma doença misteriosa numa floresta e começam a morrer. Nos dois filmes, o tratamento dado à natureza e aos animais enfatiza a materialidade e a agência dos elementos não-humanos, além de levar o observador a sentir e pensar a natureza como uma experiência corpórea e afetiva. A análise se baseia nos conceitos de visualidada hápitca e tatilidade (Laura Mark, Giuliana Bruno), corporeidade (Vivian Sobchack) e afeto (Gilles Deleuze, Brian Massumi), e está fundamentada numa abordagem ecológica do cinema, como proposta por Timothy Morton, Anat Pick e Guinevere Narraway. Busca-se, portanto, pensar que funções a relação entre os corpos, a natureza e o afeto desempenha e que efeitos são produzidos a partir de uma aproximação com o não-humano, ou, para além da esfera da representação, a partir de uma conexão direta entre a materialidade da imagem e a materialidade do mundo, em razão da atribuição de uma agência aos elementos não-humanos. Em outras palavras, não se trata apenas de questionar como a natureza é representada, mas, fundamentalmente, como as imagens em movimento desafiam nossas ideias e noções filosóficas a respeito da natureza e do meio ambiente, e criam novas formas de imaginar a relação entre o humano e o não-humano. |
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Bibliografia | Bennett, J. Empathic Vision. Stanford University Press, 2005. |