ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | De Santiago a Roma: uma mirada patronal no Cinema Latino-Americano |
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Autor | Marcelo Vieira Prioste |
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Resumo Expandido | Nas diversas entrevistas dadas para promoção do filme Roma (México/USA, 2018), o consagrado diretor mexicano Alfonso Cuarón reitera o caráter autobiográfico de sua obra. Numa experiência marcadamente autoral, desde a construção do roteiro aos processos de produção, fotografia e filmagem, Cuarón mergulha nas memórias de sua infância por meio de uma imagem espetacularizada de cineasta hollywoodiano que rememora episódios traumáticos de sua vida e da história do México, principalmente o Massacre de Corpus Christi ou El Halconazo, quando em Junho de 1971 mais de 120 estudantes foram mortos por um grupo paramilitar treinado pelo governo de Luis Echeverría Álvarez (1970-76). Porém, no centro dessa narrativa quem está é a personagem Cleo, empregada da família, jovem indígena de vida obliterada pela estrutura social mexicana e inspirada em sua babá na vida real (Libo Rodríguez). Se ao longo do filme Cleo se expressa em espanhol com os patrões e em mixteca, dialeto de grupos indígenas mexicanos, nas conversas com sua colega de serviço, contudo, sua subjetividade permanecerá inacessível ao longo da trama, envolta numa extenuante e cíclica ação laboral no espaço burguês do ambiente doméstico. Assim, enveredaremos por uma análise dos procedimentos de direção no filme Roma que, aliado a materiais extra-fílmicos centrados nas entrevistas do diretor, observaremos a perspectiva de um “filme de remissão patronal”, que busca por um efeito de reparação social conciliatória com o seu passado ao trazer para o centro da narrativa a personagem de sua infância, alguém cuja passividade repete-se agora como personagem fílmica. Posição acentuada pela direção maneirista, com enquadramentos socialmente hierarquizados somados a recorrentes e ostentosos travellings e planos-sequência, intensificando a distância para com a personagem que pouco se expressa. Um distanciamento similar aquele assumido e convertido em reflexão feita por João Moreira Salles no documentário Santiago (Brasil, 2007), ao contar a história do empregado (mordomo) que serviu a sua família por toda a infância. Dissensão que também havia sido tematizada no filme posterior do diretor brasileiro. Em No Intenso Agora (Brasil 2017), novamente pelo viés do documentário, Salles aborda a alienação da sua família, sua mãe principalmente, na efervescência política e cultural de 1968. É desta maneira que as reflexões do diretor brasileiro presentes em Santiago, muitas vezes de caráter confessional, sobre uma mirada patronal e as fronteiras no ato de filmar o subalterno, irão subsidiar uma análise fílmica da ficção mexicana em torno dos conceitos de voz e espaço na construção da mise en scène. |
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Bibliografia | CÂMARA, Vasco. Alfonso Cuarón regressou ao México para resgatar a ama. (entrevista). Disponível em: https://www.publico.pt/2018/11/25/culturaipsilon/entrevista/alfonso-cuaron-regressou-mexico-resgatar-ama-1851867. Acessado em: 18/4/19. |