ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Orfeu de Jean Cocteau: a jornada do Poeta |
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Autor | Isabella Brandão Mendes Martins |
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Resumo Expandido | Orfeu (1950) antes de se tornar um filme foi uma peça de teatro desenvolvida por Jean Cocteau. Estreou no ano de 1926 no Théàtre des Arts de Paris, com decoração de Jean Victor Hugo e figurino de Coco Chanel. Tragédia em um ato e um intervalo, doze cenas e apenas um ato. Uma decoração simples e funcional, um vestuário também simples e contemporâneo com poucas cores e com alguns mínimos truques, porém de grande impacto, fazem parte desta primeira obra teatral de Cocteau, a qual é a base para o filme de mesmo nome, que estreou vinte e quatro anos mais tarde, como nos conta Pedraza (2016, p. 150). Vinte anos depois do primeiro filme da trilogia, Sangue de um poeta, Cocteau realiza sua grande obra cinematográfica. Agora com mais recursos econômicos e técnicos e também com mais habilidades e conhecimentos cinematográficos que ele adquiriu ao longo dos anos. Nesse filme temos o que Rajewsky (2012) chama de transposição intermidiática, quando uma mídia é passada para outra. No caso temos o mito de Orfeu, que está presente na literatura antiga, e também se trona um símbolo para Cocteau. Mas vamos nos ater aqui na transposição, temos uma narrativa literária sobre o mito, ele nos apresenta ao mito logo no início do filme. Em voz off, Cocteau nos conta a história do mito: “A lenda de Orfeu é bastante conhecida. Na mitologia grega, Orfeu foi um trovador lírico da Trácia. Ele encantava até os animais (...)(Orfeu, 1950)”. Em seguida Cocteau se refere a sua versão e adaptação desse mito, afirma que uma lenda pode ser reinterpretada em diferentes momentos históricos. Quando lidamos com uma transposição, devemos levar em consideração a diferença entre as mídias que irá afetar como uma mesma história será contada. No caso em específico, temos a literatura/ poesia e o cinema, de formas gerais, na literatura temos o “narrar” como forma básica de se contar uma história, e no cinema, por sua vez, temos o “mostrar”. Além disso, o artista sugere uma livre interpretação e ressignificação do seu filme para o espectador, desde o início não se propõe em fazer uma história fiel ao original. Abre outras possibilidades de interpretação, e não apenas uma fechada que ele poderia ter imaginado na realização do projeto. Cocteau assume seu filme como uma obra aberta. Ainda em voz off: “Onde se passa a nossa estória e em que época? Uma lenda pode estar além do tempo e lugar. Interprete como quiser...” (Orfeu, 1950). A fidelidade não deve ser a questão mais importante em se tratando de uma transposição intermidiática, pois cada mídia tem suas próprias características e particularidades que são impossíveis de serem transpostas totalmente ou parcialmente. O que nos interessa aqui é a forma como Cocteau assimila o mito e o ressignifica, transforma o personagem Orfeu em seu arquétipo de poeta. No filme encontramos os principais elementos do mito de Orfeu, sua fama como poeta, o relacionamento com Eurídice, a morte dela, a busca por ela no submundo por Orfeu, o seu retorno com a condição de que ele não poderia olhar diretamente para ela, temos a referência as bacantes (o bar onde Eurídice trabalhava antes de se casar), que na versão do mito escrita por Virgílio são as responsáveis por matar Orfeu depois que ele se afunda em sofrimento pelo seu segundo luto. Além disso Cocteau trabalha com a sua própria simbologia, como é o caso do espelho, acrescenta seus próprios personagens mitológicos, como a Princesa, Heurtebise e Cégeste, coloca humor na história em algumas situações e nos traz um final feliz para o amor entre Orfeu e Eurídice, a tragédia fica para os entes sobrenaturais presentes no filme. É como ele próprio diz, como se o amor fosse capaz de vencer os obstáculos, mesmo que seja o amor da Morte de Orfeu (a princesa) por Orfeu, que a faz reverter a situação que ela mesma provocou. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. THOMPSON, Kristin. A arte do cinema: uma introdução. Campinas, Editora Unicamp, 2013. |