ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | À ESCUTA DE TELEFONE SEM FIO, VIDEO-ARTE BRASILEIRA DE 1976. |
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Autor | CLOTILDE BORGES GUIMARÃRS |
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Resumo Expandido | Experimentar é testar um procedimento sem conhecer de antemão o resultado, e foi esta atitude que produziu investigações sonoras pioneiras e variadas: com o ruído sonoro, em The Trip (1974) de José R. Aguilar; com a voz e a escuta em Telefone-sem-fio (1976), de Anna Bella Geiger, Leticia Parente, Fernando Cocchiarale, Ivens Machado, Miriam Danowski, Paulo Herkenhoff e Sonia Andrade e com a composição eletrônica em Vt Preparado AC-JC (1986), de Pedro Vieira e Walter Silveira. Nesta primeira parte da pesquisa, escolhemos começar a analisar a abordagem sobre a escuta e a voz em Telefone sem fio (1976). A produção carioca de vídeoarte deste período assimilou procedimentos da arte da performance. O performer trabalha com a expressividade do corpo numa situação comportamental resignificada (GLUSBERG, 2009). Telefone sem fio é uma brincadeira infantil, que consiste em que pessoas, sentadas em roda, cochichem palavras no ouvido das outras, que serão reveladas no final. O vídeo começa com letreiros ao som de um telefone que toca, aludindo à solicitação de um contato/relação, em seguida os artistas performam a brincadeira para a câmera. Como Arlindo Machado já nos havia alertado, o estudo de obras vídeográficas nos impõe o desafio de lidar com “um objeto híbrido, camaleônico, de identidades múltiplas, resistente a qualquer tentativa de redução, muitas vezes nem mais objeto, mas acontecimento, processo, ação dissolvido em outros fenômenos significantes” (MACHADO, 2008: 10). Por seu caráter aberto e processual, este vídeo proporciona várias possibilidades interpretativas (ECO,1991), muitas delas associadas ao momento político em que foi feito, 1976. Uma delas poderia ser a de uma crítica à TV, pondo à mostra o ruído comunicativo; outra, mostrando o momento de censura em que vivíamos, salientando o ato de trocar palavras em segredo. Ao confrontar a palavra do início à do fim, o grupo de artistas se diverte com os resultados por causa da troca de forma e sentido que as palavras vão ganhando, expressando, como ato de resistência, a alegria de negar o poder da língua (BARTHES,1980) e, por consequência, à todas as formas de poder e autoridade. Para isso são usados o riso, o deboche e a subversão. Outra possibilidade interpretativa se insere numa análise de poéticas contemporâneas da vocalidade (sonoridade da voz), se percebermos nesta experimentação com a sonoridade da palavra uma expressão do pioneirismo deste grupo nesta área. Diferentemente dos americanos Paik, Vasulka, T. Conrad, B. Viola, músicos experimentais (ROGERS, 2013), nossos videoartistas vinham das artes visuais, e em decorrência de uma característica intrínseca à essa mídia (gravação de som simultânea à da imagem) acabaram explorando este elemento inadvertidamente. A performance registrada pelo vídeo faz referência à etimologia da palavra escutar (do latim auscultare: ouvir com atenção), mostra o gesto da boca que fala ao ouvido de outro, que escuta atentamente de forma privada, um índice não oral de uma performance sobre escuta, naquilo que ela tem de relacional - a voz do outro que me toca e ressoa em mim (NANCY, 2014), nos chamando a atenção também sobre a possibilidade poética que a brincadeira com a sonoridade das palavras pode proporcionar. Onomatopeia, aliteração, glossolalia, já eram conhecidas desde a antiguidade (HIGGINS, 1990). Os primeiros poemas fonéticos foram publicados no fim do séc. XIX. Os futuristas italianos e russos propunham libertar as palavras do jugo do significado. Músicos experimentais como Berio , Stockhausen , e Apergghis também exploraram a sonoridade da fala e do aparelho fonador. Experimentações feitas com a escuta voz em Telefone sem fio (1976), ficaram perdidas naquele tempo e espaço, pois não faziam parte de uma pesquisa sistemática deste grupo com o som. Nosso estudo pretende evidenciar este pioneirismo e dar ouvidos a algumas destas experimentações. |
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Bibliografia | BARTHES, R. Aula. São Paulo: Ed. Cultrix, 1980. |