ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Três narrativas mínimas de Brígida Baltar |
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Autor | Fernanda Bastos Braga Marques |
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Resumo Expandido | Brígida Baltar é uma artista plástica brasileira totalmente inserida no conceito de artevida. Ela tem o próprio corpo e a própria casa/ateliê como campos de experimentação e fontes de criação de sua obra, que inclui desenho, pintura, escultura, bordado, fotografia, cinema e vídeo. O trabalho da artista está quase sempre ligado aos processos, às experiências e aos afetos. Sendo assim, alguns de seus filmes são registros de performances, como Abrigo e Torre (ambos de 1996); outros são performances encenadas para a câmera, como Maria Farinha Ghost Crab (2004) e Voar (2011). Este artigo propõe analisar três fotofilmes da artista, são eles: Abrindo a janela (1996), Os 16 tijolos que moldei (2008), Os mergulhos de (1999). Além da origem fotográfica de suas imagens, os três filmes tem em comum a curta duração e a narrativa mínima, construída pela montagem audiovisual que atribui duração e sequencialidade às imagens estáticas. Por outro lado, cada um tem uma característica técnica, o que, associado às possibilidades da montagem, gera resultados muito diferentes. Abrindo a janela e Os 16 tijolos que moldei fazem parte da longa pesquisa realizada por Baltar sobre tijolos e pó de tijolos, desde 1992, na qual realizou trabalhos como os já citados Torre e Abrigo, Paisagens Vermelhas (2009), Passagem Secreta (2007) etc. No primeiro, a artista e seu filho abrem um buraco na parede da casa/ateliê, inventando uma nova janela. No segundo, ela mistura o pó de tijolo retirado da casa/ateliê ao barro do sertão brasileiro para fazer tijolos artesanais em uma olaria. Em Os mergulhos de, Baltar homenageia alguns colegas de uma residência artística da qual participou na Bahia fotografando seus mergulhos no mar. Ou seja, além das características formais já citadas, que reúnem os três filmes, podemos observar a marca do afeto cotidiano constante na obra da artista. Os fotofilmes são um campo experimental por excelência, uma vez que têm como premissa a desconstrução de um modelo – o cinema clássico – e a investigação de suas possibilidades imagéticas e narrativas. Inicialmente, com o desenvolvimento dos campos fotográfico e cinematográfico, nas áreas técnica e comercial, os discursos e saberes construídos em seu entorno, principalmente a partir da segunda metade do século passado, trataram mais de opô-los e separá-los por suas diferenças e de olhar para suas especificidades como meios, deixando um pouco de lado as interseções e diálogos. São discursos e saberes ligados a uma visão de mundo moderna, na qual tudo é separado e categorizado, em busca da pureza essencial de cada objeto, por isso mesmo as fronteiras e áreas de interseção não são consideradas. (LATOUR, 1994) Mas sempre há o desvio e o “entre”, e os fotofilmes habitam justamente essa fronteira entre a fotografia e o cinema – imagem fixa e imagem em movimento; interrupção e fluxo; matéria e luz – com a liberdade formal, que o rótulo de “experimental” lhes permite, alcançando resultados bem diversos. |
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Bibliografia | BALTAR, Brígida. Passagem secreta. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2012. |