ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | Luiza Maranhão: A mulher negra no prelúdio cinemanovista |
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Autor | Catarina de Almeida |
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Resumo Expandido | Esta apresentação parte da pesquisa em desenvolvimento proposta na investigação da trajetória e representação da atriz Luiza Maranhão durante o período do Cinema Novo, direcionado a atuação presente nas obras A Grande Feira (Roberto Pires, 1961) e Barravento (Glauber Rocha, 1962). O objetivo inicial é o de estabelecer as relações que envolviam na época a imagem da atriz, para isso, proponho observar fragmentos de revistas de cinema do período, comparando suas apresentações de campo e extracampo com a noção do mito da democracia racial. Joel Zito Araújo ao examinar o mito da democracia racial nas telenovelas brasileiras, abre caminhos para intencionar a apresentação de atrizes negras no cinema nacional. Ao citar o período dos anos 60, Araújo evidencia uma pequena mudança, “a mulher negra era representada regularmente como escrava e empregada doméstica, encaixando-se na reedição de estereótipos comuns ao cinema e à televisão norte americanos, como as mammies” (ARAUJO, Joel Zito, p. 980). Os poucos papéis aos negros nas telenovelas ficavam divididos entre empregadas, faxineiras e raramente via-se um médico, juiz ou dona de estabelecimentos. Deste breve apontamento de Araújo, se confirma a importância em observar pelas brechas as representações dadas aos personagens negros no cinema. Em A Grande Feira, as primeiras impressões que o filme parece afirmar é a da potência e independência da personagem Maria, interpretada por Luiza Maranhão, contudo, tal autonomia, vai se corroendo com o decorrer da narrativa, e a mulher negra “ é apresentada e oferecida como objeto de prazer” (SENNA, 1979, p. 214), até transparecer totalmente o mito da democracia racial. Para Orlando Senna, uma postura adotada pelo Cinema Novo seria a de “denunciar a exploração de que é vítima o negro mas sem se deter em uma análise racial, uma vez que o negro está englobado na massa multi-racial dos pobres oprimidos” (SENNA, 1979, p. 216). Porém, os cinemanovistas na tentativa de ‘denunciarem explorações’, acabaram impulsionando um leque de estereótipos alegóricos negativos. Stam e Shohat contrapõem essas alegorias ao dizer que “as representações portanto, se tornam alegóricas: no discurso hegemônico todo papel subalterno é visto como uma sinédoque que resume uma comunidade vasta, mas homogênea”, enquanto quando direcionado o olhar para os grupos dominantes, essas representações “não são vistas como alegóricas, mas como “naturalmente” diversas, exemplos de uma variedade que não pode ser generalizada” (SHOHAT, Ella, STAM, Robert. 2006, p. 269). Destes breves apontamentos, ficam para além da objetificação alegórica do corpo feminino e negro, observar que mesmo pelas beiradas, a força performática de Luiza Maranhão permanece nas imagens captadas pelos olhares masculinos. Contudo é interessante pensar em uma reeducação do olhar ao assistir tais obras, pontuar as falhas dos realizadores como forma de repensar tais estruturas, suas causas e efeitos envoltos na atuação feminina. |
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Bibliografia | ARAUJO, Joel Zito. O negro na dramaturgia, um caso exemplar da decadência do mito da democracia racial brasileira. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 16 (3), set/dez 2008. |