ISBN: 978-65-86495-01-0
Título | O circuito exibidor de Inconfidência Mineira (1948) no Rio de Janeiro |
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Autor | Lívia Maria Gonçalves Cabrera |
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Resumo Expandido | A produção de Inconfidência Mineira (Carmen Santos, 1948) foi aguardada pelo público e pela imprensa durante cerca de dez anos. Tendo sido anunciado na imprensa pela primeira vez no ano de 1937, a grandiosa produção da Brasil Vita Filme foi estrear apenas em 22 de abril de 1948, um dia após a celebração do Dia de Tiradentes. Um volumoso conteúdo de matérias jornalísticas acompanhou essa conturbada produção, ora reverenciado a iniciativa do projeto que se propunha a filmar uma reconstituição histórica com as melhores condições técnicas possíveis, ora criticando a demora, as substituições de atores e técnicos, duvidando da capacidade técnica do cinema brasileiro, na figura de Carmen Santos. Sabe-se que, como filme pronto, Carmen enfrentou problemas na distribuição da obra, acusando o empresário Severiano Ribeiro de boicotar sua negociação com a MGM. Segundo a denúncia feita por Carmen e outros empresários, Severiano estava constituindo um trust cinematográfico, dominando as etapas de produção, distribuição e exibição, sufocando a concorrência. Carmen, não entrando num acordo com o empresário, acabou fechando a exibição do seu filme no circuito de Vital Ramos de Castro. A proposta desta comunicação é de analisar o lançamento de Inconfidência Mineira nas salas de cinemas do Rio de Janeiro e os dispositivos que Carmen Santos utilizou para o lançamento, distribuição e exibição. Ela tinha muitas intenções para sua obra, mas enfrentou dificuldades que colocaram seu filme numa trajetória diferente da que desejava. Procuraremos levantar questões acerca do circuito exibidor carioca, primeiro devido a sua importância no cenário nacional, posto que o Rio de Janeiro era a capital do país e local de efervescência das principais ideias e publicações sobre cinema. Também era na cidade que se localizava a empresa de Carmen Santos, a Brasil Vita Filme, e onde estavam os colaboradores do filme. Buscaremos avaliar como as salas de cinema e as estratégias de lançamento puderam influenciar na trajetória da obra, no tipo de público, nas críticas da imprensa. O filme foi lançado no circuito de Vital Ramos de Castro, encabeçado pelo Cine Plaza e teve exibição concomitantemente em mais oito salas, os cinemas Parisiense, Astoria, Olinda, Ritz, Star, República, Primor e Mascote. Segundo reportagem de Mundo Rio de 23/4/48 o lançamento foi prejudicado “nos pardieiros do Sr. Capitão Vital Ramos de Castro” que estavam “longe de poder ser uma sala lançadora”. Assim, entende-se ser necessário uma análise dessas salas frente ao circuito exibidor no Rio de Janeiro, procurando avaliar as características delas e como isso impactou na recepção do filme. A partir do objeto fílmico nos interessa discutir o quanto a triangulação equipamentos cinematográficos de exibição, programação dos cinemas e experiências das audiências são importantes para a história (FERRAZ, 2017) e, dentro da proposta, influenciaram na tão aguardada estreia do filme. No caso desta pesquisa, em que só há pequenos trechos do filme, faz-se necessário termos um outro olhar para resgatar a trajetória da obra naquele contexto. O estudo de uma obra fílmica desaparecida em sua forma original, da qual restaram apenas trechos e fontes primárias, roteiros, reportagens e depoimentos, faz a pesquisa, ao recorrer a outros materiais, enxergar novas possibilidades de análise, articulando outras abordagens para pensar o objeto. A proposta parte de um objeto fílmico para lançar um olhar sobre as salas de cinema nas quais ele foi exibido e as nuances que permearam essa relação. O estudo sob a ótica das salas de cinema e do mercado exibidor foram pouco foram contempladas nos estudos históricos do cinema que, quase sempre, privilegiaram o texto fílmico. Assim, acreditamos ser importante para aqueles que buscam o resgate da História do Cinema Brasileiro relacionar o objeto fílmico a outros vieses de pesquisa para a reconstituição desse passado cinematográfico, trabalhando relações com outros campos do saber. |
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Bibliografia | FERRAZ, Talitha. “As potência da ‘nostalgia ativa’ na luta pela salvaguarda do Cine Vaz Lobo”. Revista ECO-Pós, Rio de Janeiro. V., 20, n.03, dez. 2017, pp. 111-133. |